O presidente Lula durante a abertura da COP30: 'Estamos andando na direção certa, mas na velocidade errada. No ritmo atual, ainda avançamos rumo a um aumento superior a um grau e meio na temperatura global. Romper essa barreira é um risco que não podemos correr' / Foto: Ricardo Stuckert / PR
Lula na abertura da COP30: “A mudança do clima já não é ameaça do futuro. É uma tragédia do presente”
Com
um apelo para que o mundo se una contra as desigualdades e trabalhe
numa agenda que possa ser implementada com agilidade baseada nos
caminhos da ciência no combate aos efeitos da mudança do clima, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu as boas-vindas a delegações de
todo o planeta na abertura da COP30, nesta segunda-feira, 10 de
novembro.
“A
emergência climática é uma crise de desigualdade. Ela aprofunda a lógica
perversa que define quem é digno de viver e quem deve morrer”, afirmou
Lula, na sessão de abertura da 30ª Conferência das Partes da
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), em
Belém (PA). “Mudar pela escolha nos dá a chance de um futuro que não é
ditado pela tragédia. Devemos a nossos filhos e netos a oportunidade de
viver em uma Terra onde seja possível sonhar”.
Ao
lembrar o tornado que afligiu o município de Rio Bonito do Iguaçu, no
Paraná, na última sexta-feira (7/11), com ventos que chegaram a 330
km/h, além de outras calamidades climáticas recentes, Lula alertou que a
mudança do clima é uma realidade palpável que exige intervenção urgente
dos líderes e representantes de todo o mundo.
“A
mudança do clima já não é ameaça do futuro. É uma tragédia do presente. O
furacão Melissa que fustigou o Caribe e o tornado que atingiu o Paraná
deixaram vítimas fatais e um rastro de destruição. Das secas e incêndios
na África e na Europa às enchentes na América do Sul e no Sudeste
Asiático, o aumento da temperatura global espalha dor e devastação,
especialmente entre as populações mais vulneráveis”, disse.
CAMINHO A SEGUIR
Para Lula, a COP30 em Belém será marcada por diversos simbolismos,
mas, acima de tudo, como um evento em que os compromissos firmados e os
caminhos determinados pela ciência precisam ganhar nova dimensão. “A
COP30 será a COP da verdade. Na era da desinformação, os obscurantistas
rejeitam não só evidências da ciência, mas os progressos do
multilateralismo. Eles controlam algoritmos, semeiam o ódio e espalham o
medo. Atacam as instituições, a ciência e as universidades. É momento
de impor uma nova derrota aos negacionistas”.
ESSÊNCIA BOA
Lula foi precedido por um momento simbólico para o Brasil: a passagem
da presidência da COP ao embaixador André Corrêa do Lago, que recebeu o
cargo de Mukhtar Babayev, do Azerbaijão, presidente da COP29, em Baku.
“Estamos reunidos aqui para tentar mudar as coisas. O ser humano é
essencialmente bom, mas sabemos que é capaz de coisas terríveis, como a
guerra, que, infelizmente, voltou a estar próxima de tantas pessoas”,
afirmou Corrêa do Lago. “Mas, apesar dos retrocessos recentes, as
condições de vida das populações em todo o mundo podem e devem continuar
a melhorar. E a ciência, a educação, a cultura são o caminho que temos
que seguir”.
MUTIRÃO
O presidente da COP30 lembrou que no processo de discussão da agenda
climática, o multilateralismo deve ser fortalecido. “É definitivamente o
caminho”, disse o embaixador. Para reforçar o argumento, ele lembrou da
palavra mutirão, de origem nos povos indígenas brasileiros, que
simboliza uma atuação conjunta para resolver as grandes questões.
“No
período de mobilização, durante o ano de preparação da COP, conseguimos
que essa palavra de origem indígena brasileira, mutirão, se tornasse uma
palavra de todos os dicionários. E é através do mutirão que nós vamos
poder implementar as decisões desta COP e das anteriores”, disse Corrêa
do Lago.
DIREÇÃO E VELOCIDADE
O presidente brasileiro deixou claro que o caminho aberto pelo Acordo
de Paris, firmado em 2015, pavimentou a trilha para o futuro da
humanidade. Ele ressaltou que esse caminho precisa ser seguido com mais
celeridade. “Sem o Acordo de Paris, o mundo estaria fadado a um
aquecimento catastrófico de quase cinco graus até o fim do século.
Estamos andando na direção certa, mas na velocidade errada. No ritmo
atual, ainda avançamos rumo a um aumento superior a um grau e meio na
temperatura global. Romper essa barreira é um risco que não podemos
correr”, alertou Lula.
ESSÊNCIA BOA
Lula foi precedido por um momento simbólico para o Brasil: a passagem
da presidência da COP ao embaixador André Corrêa do Lago, que recebeu o
cargo de Mukhtar Babayev, do Azerbaijão, presidente da COP29, em Baku.
“Estamos reunidos aqui para tentar mudar as coisas. O ser humano é
essencialmente bom, mas sabemos que é capaz de coisas terríveis, como a
guerra, que, infelizmente, voltou a estar próxima de tantas pessoas”,
afirmou Corrêa do Lago. “Mas, apesar dos retrocessos recentes, as
condições de vida das populações em todo o mundo podem e devem continuar
a melhorar. E a ciência, a educação, a cultura são o caminho que temos
que seguir”.
SOLUÇÕES
Os discursos de Lula e Corrêa do Lago encontraram eco nas palavras de
Simon Stiell, secretário-executivo da UNFCCC. “Há 10 anos em Paris,
estávamos desenhando um futuro que testemunharia a queda da curva de
emissões. Bem-vindos a esse futuro. A queda de emissões sofreu esse
declínio e isso se deve ao que foi acordado em salas como essa”, disse
Stiell. “Mas ainda há muito trabalho a ser feito. Precisamos agir mais
rápido, tanto na redução das emissões quanto no fortalecimento da
resiliência. Lamentar não é uma estratégia, precisamos de soluções”.
CHAMADO À AÇÃO
Na perspectiva dessa ação concreta, Lula ressaltou a importância do Chamado de Belém pelo Clima, documento
com propostas para resgatar a confiança mútua e o espírito de
mobilização coletiva num caminho em três frentes. “Na primeira parte, um
apelo para que os países cumpram seus compromissos”, disse Lula. Ele se
referia à implementação de Contribuições Nacionalmente Determinadas
(NDCs) ambiciosas, aos esforços para assegurar financiamento,
transferência de tecnologia e capacitação e a uma maior atenção à
adaptação aos efeitos da mudança do clima.
Nos dois
pontos seguintes, Lula pediu aos líderes mundiais que acelerem a ação
climática por meio de uma governança global mais robusta, capaz de
assegurar que palavras se traduzam em ações. O presidente voltou a
destacar a proposta de criação de um Conselho do Clima, vinculado à
Assembleia Geral da ONU, para dar a esse desafio a estatura política que
ele merece.
Por fim, pediu que homens, mulheres, crianças, jovens e idosos estejam no centro das atenções. “Convoco a comunidade internacional a colocar as pessoas no centro da agenda climática. O aquecimento global pode empurrar milhões para a fome e a pobreza, fazendo retroceder décadas de avanços. O impacto desproporcional da mudança do clima sobre mulheres, afrodescendentes, migrantes e grupos marginalizados deve ser levado em conta nas políticas de adaptação”, disse. “É fundamental reconhecer o papel dos territórios indígenas e de comunidades tradicionais nos esforços de mitigação”.
BELÉM E AMAZÔNIA
Lula também fez questão de homenagear o povo do Pará e agradecer a
todos os que se esforçaram para que a COP30 pudesse ser realizada em
Belém. O presidente reafirmou que a conferência trará uma nova
compreensão sobre a floresta Amazônica e tudo o que ela representa aos
povos que a habitam. No início de sua fala, presidente brasileiro fez um
convite aos participantes da conferência para mergulharem na cultura
local.“Tirem proveito desta cidade,
tirem proveito dessa alegria, da beleza, do charme, do carinho e do amor
de homens e mulheres que vão receber vocês. Sobretudo, tirem proveito
da culinária do Pará”, disse Lula. “Aqui vocês vão comer comidas que
vocês não comeram em nenhum lugar do mundo, talvez o melhor peixe. E não
se esqueçam de comer a maniçoba”.
O
presidente acrescentou que a Amazônia não é uma entidade abstrata, mas
sim um lugar repleto de vida. “Quem só vê a floresta de cima desconhece o
que se passa à sua sombra. O bioma mais diverso da Terra é a casa de
quase 50 milhões de pessoas, incluindo 400 povos indígenas, dispersa por
nove países em desenvolvimento que ainda enfrentam imensos desafios
sociais e econômicos”, afirmou Lula.
“Desafios que o Brasil luta para superar com a mesma determinação com que contornou as adversidades logísticas inerentes à organização de uma conferência deste porte. Quando vocês deixarem Belém, o povo da cidade permanecerá com os investimentos em infraestrutura que foram feitos para recebê-los. E o mundo poderá, enfim, dizer que conhece a realidade da Amazônia. Espero que a serenidade da floresta inspire em todos nós a clareza de pensamento necessária para ver o que precisa ser feito”, concluiu Lula, que discursou depois de manifestações de povos indígenas e de apresentações culturais com a cantora Fafá de Belém e a ministra Margareth Menezes (Cultura), que juntas cantaram “Emoriô”, composição de Gilberto Gil e João Donato.
