Psicólogo e Mestre em Psicologia e escritor Vladimir Nascimento/Foto: Arquivo O Candeeiro
ARTIGO - Descaso com o público infantojuvenil = Por Vladimir Nascimento
A corda sempre parte do lado mais fraco e frágil. Não é à toa que a infância sempre é relegada ao descaso, e deixada em segundo plano – não apenas no âmbito familiar, mas também nas ações e intervenções do Estado.
O pior é
que essa negligência infantil não é um problema recente. De acordo com os
aprofundados estudos do historiador francês, Philippe Ariès, a infância sempre
foi uma fase da vida humana desvalorizada e desrespeitada. Nos séculos X-XI, a
infância já era descartada, tida como um período ultrapassado; e a criança
considerada tão insignificante, que não se acreditava que ela possuía uma
personalidade própria. Eram tratadas como adultos em miniatura, sendo responsabilizadas
por todas as consequências de suas ações.
Hoje, mesmo com avanços em várias diretrizes que regem as leis pró-infância e adolescência, não é difícil perceber na prática, que estamos paulatinamente retrocedendo, atribuindo responsabilidade a pessoas mais frágeis e vulneráveis que, se hoje são infratoras não é por serem más, e sim por não terem acesso às políticas públicas direcionadas à educação e prevenção.
Ante o
exposto, podemos refletir: o público infantojuvenil deverá ser o único
responsável por seus atos infracionais? Qual nossa parcela de contribuição
sobre a situação desses jovens infratores? Até quando vamos assistir
passivamente o aliciamento deles pelos traficantes? Estamos cumprindo bem nossa
intransferível função de pais, em educar plenamente nossos filhos? Seremos
eternos cúmplices do trabalho infantil, cruelmente disseminado nas cidades
urbanas e rurais do Brasil? Continuaremos a deixar nossas meninas venderem seus
frágeis corpos nas estradas em troca de alimentos? Por que no Brasil a educação
é menos valorizada e sedutora que a criminalidade? Por que esperamos acontecer
um problema para intervir, ao invés de prevenir que ocorra? Até quando seremos
passivos e intolerantes com o presente e o futuro de nossas crianças e jovens?
Crianças não são extraterrestres que chegaram ao planeta terra com suas personalidades já construídas. Ao contrário: elas nascem, aprendem, se desenvolvem e constroem suas identidades em contextos que influenciam e sofrem influências socioculturais. A ausência de educação ou excesso de negligência certamente contribuirá de forma negativa para possíveis comportamentos antissociais dessas crianças, reverberando na sociedade todas as consequências que colheram dela. Analisando dessa forma, podemos resumidamente inferir: se nossas crianças e jovens estão sem limites é porque toda sociedade também está sem limites. Se não fizermos constantemente essa autorreflexão, continuaremos a procurar um bode expiatório para despejar a culpa de um problema que é nosso.
Vladimir de Souza Nascimento
Psicólogo, mestre em Psicologia (UFBA), escritor e Palestrante.
CRP-03/4531
WhatsApp: 71 98809-3157
