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"O mundo precisa de transformação e solidariedade", afirma ex-ministra francesa no Festival Nosso Futuro
No quarto dia de programação do Festival Nosso Futuro, o Fórum Brasil-França: Diálogos com a África trouxe à Doca 1, neste sábado (08), a ex-ministra da Justiça francesa, Christiane Taubira. Escritora e poeta nascida na Guiana Francesa, Taubira foi responsável por articular a histórica lei de maio de 2001, que reconhece o tráfico atlântico de escravos e a escravidão como crimes contra a humanidade. Na sua participação em Salvador, mobilizou a plateia ao fazer um forte apelo à ação e deliberação coletivas, e a rejeitar o modelo do "grande líder" individual.
A ex-ministra também destacou a relevância do Brasil no contexto da COP30, apontando o país como uma liderança do Sul Global (países em desenvolvimento), com riquezas culturais e geopolíticas que exemplificam a pluralidade. “Esses 'sules' (Sul Global) têm a experiência concreta, cotidiana da exclusão, da pobreza, da injustiça social, do descrédito, da expulsão da comunidade nacional. Esses 'sules' vivem essa experiência coletiva e individual permanentemente”, explicou.
Apesar dos desafios, Taubira reconheceu avanços no Brasil, sobretudo pelas ações públicas de combate à pobreza e à desigualdade social. Ela também destacou as elites progressistas do Norte Global que, ao longo da história, conceberam ideias de justiça social, emancipação individual e solidariedade. “São essas forças que devemos identificar”, declarou, “mobilizar e convidar a nos acompanhar na ambição nada menor que a transformação do mundo”.
Discussões que começam no "micro" impactam o "macro"
Além da palestra de Taubira, a programação no espaço Doca 1 apresentou mesas que reforçaram o papel da participação popular e da cooperação entre povos para resolver as desigualdades globais. Com a presença de mais de 20 líderes representando os três continentes, os encontros abordaram temas como justiça climática, desigualdades sociais, diversidade e afrofeminismo. Neste último, o painel trouxe reflexões sobre a dificuldade de ampliação desse movimento, muitas vezes restrito a lutas solitárias travadas pelas próprias ativistas negras. Ocupar espaços de decisão e de governança, além do respeito à diversidade e a cooperação foram defendidos como pontos fundamentais para uma mudança positiva na sociedade. Houve ainda, durante a tarde, palestra da deputada federal Erika Hilton.
Essa conexão entre Brasil, França e África é celebrada por Lylly Hounghihin, uma das curadoras do festival, originária do Benin, no continente africano e que vem do laboratório de artes contemporâneas, ou seja, representa o mundo das artes, trazendo uma perspectiva muito singular para a discussão. Em tom poético, Lylly comparou o evento a uma “semente plantada”. “Para mim, esse projeto foi um trabalho árduo de um ano. Hoje tenho certeza de que essa semente vai crescer. O tempo da árvore será de todos nós, mas suas folhas terão mil tons de verde e cada fruto virá em seu momento. Uma aliança ancestral acaba de ser renovada aqui em Salvador”, declarou, emocionada.
Sobre a Temporada França-Brasil 2025
Iniciada pelos presidentes de ambos os países, a Temporada celebra 200 anos de relações diplomáticas com mais de 300 eventos por todo o Brasil, com foco nos três temas: democracia e globalização justa e inclusiva; diversidade e diálogo com a África; clima e transição ecológica. Foi organizada pelo Institut français e pelo Instituto Guimarães Rosa, com o apoio de um extenso comitê de mecenas, incluindo grandes empresas como ENGIE, L’Oréal, LVMH e Carrefour.
Por Luana Oliveira
