Foto: Divulgação/Arquivo O Candeeiro
Com avanço do ENPM, cresce pressão por “OAB dos Médicos” e por mais proteção jurídica na profissão
Para
a advogada especialista em direito médico, Dra. Gabrielle Brandão, o
Exame Nacional de Proficiência é apenas parte de uma discussão maior: a
proteção jurídica do médico e a qualidade da assistência prestada à
população.
A criação do Exame Nacional de Proficiência em
Medicina (ENPM), já aprovado na Comissão de Educação e Cultura do
Senado, reacendeu debates sobre o futuro da formação médica no Brasil.
Mas, para quem atua diariamente orientando profissionais de saúde, como a
advogada Dra. Gabrielle Brandão, o tema vai muito além da implementação
de uma prova nacional.
Do ponto de vista jurídico, o ENPM
aparece como um ponto de encontro entre qualidade assistencial,
responsabilidade profissional e segurança jurídica. E é justamente esse
olhar, de quem está do lado dos médicos nos tribunais, nos conselhos e
nos conflitos com hospitais e operadoras, que ajuda a compreender o
impacto real da medida.
“O médico está mais exposto do que nunca”
Para Dra. Gabrielle, a discussão sobre uma “OAB dos Médicos” não surge por acaso.
“Hoje,
o médico é um dos profissionais mais expostos a cobranças, protocolos
rígidos, pressão institucional e judicialização. O ENPM chega em um
momento em que a sociedade pede qualidade, mas os médicos também pedem
proteção”, explica.
Segundo a especialista, a medicina moderna
vive um paradoxo: enquanto cresce a exigência por atendimentos mais
humanizados e atualizados, aumentam também as denúncias, processos e
conflitos regulatórios.
Muitos veem o ENPM apenas como um
mecanismo de avaliação de recém-formados. Gabrielle, porém, destaca que a
medida tem repercussão direta sobre a prática profissional e sobre a
prevenção de riscos.
“Grande parte dos processos contra médicos
nasce de falhas de comunicação, insegurança técnica ou falta de
padronização. Se o ENPM elevar a qualidade da formação, teremos
profissionais mais preparados e menos vulneráveis à judicialização
desnecessárias.”
Do ponto de vista jurídico, isso significa menos litígios e mais segurança no exercício da profissão.
Evitar desigualdades e preparar o país para a nova realidade da saúde
A
advogada também avalia que o exame exige cuidados para que não
aprofunde desigualdades regionais, especialmente em áreas onde
faculdades enfrentam limitações estruturais.
“O exame precisa vir
acompanhado de políticas de suporte. Não adianta exigir o mesmo
desempenho de estudantes que tiveram oportunidades completamente
diferentes.”
Ainda assim, ela reforça que a padronização é
importante para fortalecer a credibilidade da medicina brasileira, no
país e no exterior.
Gabrielle destaca que, no cenário atual, o
médico é frequentemente responsabilizado de forma isolada, mesmo diante
de falhas sistêmicas.
“O profissional que passa por um exame de
proficiência reconhecido pode comprovar tecnicamente sua capacitação.
Isso cria um ambiente mais justo para a análise de futuras demandas.”
Esse
argumento tem ganhado força entre grupos que apoiam a criação de uma
entidade semelhante à “OAB dos médicos”, focada na defesa institucional
da profissão.
Para a advogada, o ponto central é que o exame representa não apenas uma mudança acadêmica, mas uma transformação cultural.
“Quando
falamos em OAB dos Médicos, falamos em amadurecimento do sistema. Não é
só uma prova: é um debate sobre responsabilidade, autonomia, ética e
proteção jurídica, tanto para médicos quanto para pacientes.”
Por DAIANE BOMBARDA
