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Foto: Divulgação
Artistas e gravadoras independentes movimentam US$ 5 bilhões em royalties, aponta estudo
Segundo o último relatório ‘Loud And Clear’ do Spotify, cerca de US$ 10 bilhões foram repassados à indústria da música, somente em 2024. O destaque está para a criatividade de artistas e gravadoras independentes, que juntos, somaram mais de US$ 5 bi em royalties, o equivalente à metade das receitas geradas no ano.
Desconstruindo a indústria do mainstream, o fenômeno das “produções indies” (independentes) tem ganhado força à medida que os artistas distribuem faixas diretamente dos streamings, deixando de lado os grandes conglomerados. Para não ficarem sem suporte profissional, as gravadoras independentes se tornaram âncoras seguras para esses novos talentos; ocupando 46% do mercado global da música, conforme o último levantamento da MIDiA Research.
Na corrida por visibilidade e relevância, mesmo diante de algoritmos que favorecem artistas vinculados às grandes gravadoras, as vozes emergentes têm buscado soluções estratégicas para dar manutenção e sustento às carreiras artísticas, garantindo a longevidade e a consolidação dos trabalhos profissionais, sem afetar os processos criativos.
Apesar dos desafios constantes relacionados à produção, divulgação e distribuição da música no Brasil, diversos profissionais de A&R (Artistas e Repertório) e gestores de carreira chegaram para somar junto à nova cena independente. É nesse contexto que a empresária Marcela Silva, aos 39 anos, se destacou no mercado da música, gerenciando atualmente as carreiras de Zai e Cinara, exercendo a função de booker da banda SAMBAIANA, além de ter atuado com nomes como Duquesa, Melly, Felipe Barros, DJ Gabi da Oxe, Cronista do Morro.
Somando anos de experiência frente ao mercado, Marcela explica que trabalhar os processos criativos de maneira sustentável permite que os artistas assegurem sua autonomia, sem depender exclusivamente de hits passageiros ou do merchandising por grandes gravadoras. Dessa forma, construir reputação e identidade artística é o que garante um crescimento contínuo na visão da especialista, rompendo aos poucos à bolha do mainstream.
“Furar a bolha na indústria da música é um processo, eu diria, contínuo. Nesses anos atuando como A&R, produtora executiva, booker e gestora de carreiras, eu tenho observado diversos artistas alcançarem às massas, mas como não se firmam entre nenhum público, rapidamente caem no esquecimento. É por isso que, mesmo movimentando quase metade da indústria musical, os músicos independentes precisam de posicionamento, construção de reputação e identidade artística, porquê a tendência é que essa bolha volte à se fechar. Esse não é um trabalho para romper com os processos criativos, mas torná-los sustentáveis ao ponto de que o artista é conhecido e lembrado, mesmo após anos afastado dos grandes palcos”, explica.
Para quem está no backstage, Marcela aconselha as gestoras à diversificar fontes de receita, firmar contratos e fortalecer redes de apoio, com o objetivo de prolongar a vida útil de projetos artísticos que surgem ao longo do caminho. Em um mercado exponencial, mas com menor visibilidade, a produtora cultural reafirma que essas estratégias auxiliarão talentos à explorarem formatos, feats, partners e palcos diversos, sem comprometer à sustentabilidade das suas carreiras.
Apesar do aquecimento da cena independente, o desafio para muitos artistas ainda é encontrar a constância dos seus projetos. Segundo Marcela, a falta de visibilidade e recursos podem desanimar às criações, o que necessita de atuações mais estratégicas por parte dos bastidores. Sendo assim, organizar agendas, planejar lançamentos, cuidar da imagem e administrar continuamente as carreiras fazem parte da rotina de quem deseja permanecer ativo no mercado, sem abrir mão da liberdade criativa.
“Gerir uma carreira independente vai muito além da criação musical. É preciso equilibrar produção, distribuição, marketing e finanças de forma estratégica, pensando sempre na continuidade dos projetos. Esses fatores tornam a sustentabilidade criativa ainda mais relevante, pois permitem que projetos e novas vozes nacionais se mantenham consistentes e estruturados ao longo do tempo (ainda que o tempo de casa seja pequeno)”, conclui.
Por Glaucia Pinheiro