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Meningite viral x bacteriana: como diferenciar e o papel dos testes moleculares no diagnóstico rápido
O Dia Mundial de Combate à Meningite, oficialmente instituído em 5 de outubro, busca conscientizar a população e os profissionais de saúde sobre a gravidade da doença, suas formas de prevenção e a importância de diagnósticos ágeis e precisos. Entre 2010 e 2024, o Brasil registrou mais de 233 mil casos confirmados e 22.504 óbitos, segundo o Ministério da Saúde. Apenas em 2024, foram mais de 900 mortes, em sua maioria decorrentes das formas bacterianas da doença, que apresentam maior taxa de letalidade.
De acordo com Allan Munford, gerente regional LATAM de diagnósticos sindrômicos da QIAGEN, saber diferenciar os casos de meningite viral e bacteriana é um fator-chave para o tratamento. “Ambas apresentam sintomas semelhantes, como febre alta, dor de cabeça intensa, rigidez na nuca, náuseas, vômitos e sensibilidade à luz. No entanto, as meningites bacterianas têm um potencial de gravidade muito maior, podendo causar sequelas neurológicas e até levar ao óbito em poucas horas. Por isso, o diagnóstico rápido e preciso é fundamental”, explica.
O papel dos testes moleculares no diagnóstico rápido
Até pouco tempo atrás, a diferenciação entre meningite viral e bacteriana dependia de análises laboratoriais que podiam levar de dois a três dias para serem concluídas. Nesse intervalo, muitos pacientes recebiam tratamentos empíricos, com antibióticos ou antivirais, sem a certeza sobre o agente causador.
Allan destaca que com a chegada dos testes moleculares, como o QIAstat-Dx da QIAGEN, este cenário vem se transformando positivamente. Com benefícios visíveis aos pacientes e ao sistema de saúde como um todo, a tecnologia permite, em cerca de uma hora, identificar até 15 diferentes agentes causadores da meningite e encefalite, incluindo bactérias, vírus e fungos.
A ferramenta laboratorial funciona por meio de uma metodologia de PCR em tempo real, que identifica diretamente o DNA ou RNA do agente infeccioso. A testagem é feita com a coleta do líquido cefalorraquidiano em um procedimento de punção na lombar. Após somente uma etapa de manipulação, a amostra já pode seguir para avaliação.
“Cada minuto conta no manejo da meningite. Ao indicar o patógeno com rapidez e precisão, o teste molecular garante que o médico adote imediatamente o tratamento mais adequado, reduzindo complicações, sequelas e mortes. No caso da meningite bacteriana, o uso precoce do antibiótico correto pode ser decisivo para salvar vidas”, complementa Munford.
A nova normativa da ANS e a incorporação ao SUS
O teste PCR multiplex direto rápido, capaz de identificar em cerca de uma hora os microrganismos responsáveis pela meningite e encefalite, passou a ter cobertura obrigatória pelos planos de saúde privados em 17 de fevereiro de 2025, conforme determinação da Resolução Normativa nº 627 da ANS, publicada em 14 de fevereiro no Diário Oficial da União.
A medida é consequência da Lei 14.307/2022, que estabelece que tecnologias recomendadas positivamente pela Conitec para incorporação ao Sistema Único de Saúde (SUS) devem, em até 60 dias, ser incluídas também no rol da saúde suplementar. No caso do exame para meningite e encefalite, a aprovação foi analisada durante a 618ª Reunião Ordinária da Diretoria Colegiada da ANS (DICOL), em 10 de fevereiro de 2025, quando se deliberou sobre as novas tecnologias avaliadas pela comissão entre setembro e dezembro de 2024.
Com essa atualização, a RN nº 627 altera a RN nº 465 e regulamenta a cobertura obrigatória do PCR multiplex para detecção de múltiplos patógenos no líquor, reforçando a integração entre as políticas públicas e a saúde suplementar.
Essa iniciativa também se conecta ao Plano Nacional de Erradicação das Meningites até 2030, instituído pelo Ministério da Saúde em 2024. O programa estabelece diretrizes em cinco pilares essenciais: prevenção e controle de epidemias; diagnóstico e tratamento; vigilância epidemiológica; apoio e assistência às pessoas afetadas; e comunicação e engajamento da sociedade.
A estratégia está alinhada às metas regionais e globais da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e da Organização Mundial da Saúde (OMS), orientando ações
coordenadas nas três esferas de gestão do SUS para fortalecer as Redes de Atenção à Saúde (RAS), as vigilâncias epidemiológica e laboratorial, a imunização e a comunicação. O objetivo final é reduzir drasticamente a ocorrência e os óbitos por meningites bacterianas imunopreveníveis em todo o país.
“Quando falamos de meningite, não estamos lidando apenas com números, mas com histórias de famílias inteiras afetadas. E ver novas tecnologias sendo incorporadas tanto na saúde suplementar quanto no SUS mostra que estamos caminhando para um futuro em que o acesso ao diagnóstico rápido será uma realidade para todos os brasileiros. Isso significa mais equidade, mais qualidade no cuidado e, acima de tudo, mais vidas preservadas”, conclui o especialista da QIAGEN.
Por Rodolfo Milone