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ARTIGO - Não existe arte sem coragem = Por Samuel Caixeta
Criar é, antes de tudo, um risco. Ao transformar ideias em formas, o artista inevitavelmente se expõe e precisa estar disposto a bancar essa exposição. Em um mundo em que tudo pode ser julgado, cancelado ou moldado para agradar, a arte continua sendo um dos poucos territórios onde a autenticidade ainda é possível. Mas não sem custo. Coragem, nesse contexto, não é ornamento. É o ponto de partida.
A história da arte prova isso. Nenhuma revolução estética aconteceu sem que alguém desafiasse os padrões. Do grafite às instalações contemporâneas, passando pelas pinturas que hoje lotam museus, tudo começou com alguém que escolheu não repetir. A arte que marca época não é aquela que se encaixa, mas a que incomoda, e, justamente por isso, transforma. O novo sempre vem carregado de incômodo. Tudo o que hoje está nos museus um dia foi visto com estranhamento e só virou clássico porque alguém teve coragem de não voltar atrás.
No cenário atual, marcado por algoritmos, filtros e expectativas de performance, a coragem segue sendo essencial. O mercado muitas vezes favorece o que é fácil de consumir. Mas a arte relevante, aquela que move, que para o olhar, que gera reflexão, não nasce da pressa, nem da tentativa de agradar. Ela nasce da fricção entre o que é sentido e o que precisa ser expresso, mesmo que isso não caiba em moldes prontos.
No meu caso, a arte vem de berço. Cresci em uma casa de artistas e fui formado por referências que valorizam a criação como linguagem de mundo. Meus pais me ensinaram, com exemplos diários, que persistir na própria verdade artística é mais importante do que seguir tendências. Esse aprendizado me guia até hoje, nas telas, nos murais e nas obras que circulam entre o Brasil e o exterior.
Coragem, para quem vive da
arte, não é algo eventual. É o que permite que uma obra atravesse o
tempo, mesmo sendo incompreendida no presente. E, mais do que tudo, é o
que distingue o que é só técnica daquilo que realmente comunica. Arte
sem coragem pode até ser bonita. Mas dificilmente será necessária.
Samuel Caixeta é artista plástico e fundador do Meu Ateliê, com
exposições no Louvre, Art Basel Miami, Veneza, Dubai e outras capitais
da arte contemporânea. Premiado em Nova York por sua inovação no
neoexpressionismo brasileiro, é criador dos icônicos “narigudinhos”,
personagens que transformam imperfeições em potência visual.