
Cordão com desenhos de girassóis: símbolo nacional de identificação de pessoas com deficiências ocultas/Foto: Divulgação
Hospital Universitário de Aracaju realiza evento dedicado a debater direitos e desafios das pessoas com deficiências ocultas
‘Deficiências invisíveis, cuidados visíveis: inclusão e atenção multiprofissional’ foi o tema discutido pelo Hospital Universitário de Aracaju da Universidade Federal de Sergipe (HU-UFS), vinculado à Rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), em evento realizado nessa terça-feira, 5 de agosto. A ação articulou diretrizes legislativas sobre o tema com a importância da qualidade no atendimento às pessoas com deficiências invisíveis em ambientes hospitalares.
O objetivo dessa iniciativa foi fortalecer o acolhimento qualificado às pessoas com deficiências invisíveis, ampliar o conhecimento sobre essa condição e incentivar práticas de cuidado humanizado e inclusivo no contexto hospitalar. Estudantes dos programas de residência multiprofissional do estado de Sergipe (Saúde do Adulto e Idoso, Epidemiologia Hospitalar, Saúde Mental e Saúde da Família), residentes médicos, graduandos e profissionais de saúde do HU-UFS/Ebserh participaram de palestras temáticas seguidas de uma mesa-redonda, que promoveu o debate sobre os direitos e os desafios enfrentados por pessoas que possuem tais limitações.
Deficiências invisíveis, cuidados visíveis
Deficiência invisível (ou deficiência não-aparente) não pode ser identificada de forma imediata, por não apresentar sinais físicos visíveis. Ela se caracteriza por impedimentos de longo prazo de natureza mental, intelectual ou sensorial que, ao interagirem com barreiras sociais, ambientais ou atitudinais, podem limitar a participação plena e efetiva da pessoa na sociedade em condições de igualdade com as demais.
A psicóloga da rede Ebserh e preceptora multidisciplinar do HU-UFS, Aline Alves, destacou a importância da iniciativa como parte do papel social do Hospital Universitário. Segundo ela, o objetivo é dar visibilidade às deficiências invisíveis, ampliando o debate sobre condições que muitas pessoas enfrentam sem o devido acolhimento. “Muitas pessoas convivem com sintomas e diagnósticos, mas não conseguem realizar o enfrentamento porque não são validadas naquilo que sentem. Nosso papel é trazer esse tema à tona, superar barreiras e promover informação segura”, afirmou.
Formação acadêmica aliada ao compromisso com a saúde da população
Aline ressaltou, ainda, a relevância da participação dos residentes na construção do evento como forma de aprendizado prático e formação cidadã. “Enquanto Hospital Universitário, temos o compromisso de articular ensino, pesquisa e extensão com a comunidade. Envolver os residentes na organização de ações como esta é essencial para desenvolver habilidades técnicas e a capacidade de diálogo com a população”, concluiu.
Humanização em situações-limite
O evento ‘Deficiências invisíveis, cuidados visíveis: inclusão e atenção multiprofissional’ também abriu espaço para um tema recorrente nas instituições de saúde, mas que exige um esforço psicológico dos seus profissionais: o momento de comunicar informações delicadas.
A comunicação de notícias difíceis, como diagnósticos delicados, mudanças clínicas ou prognósticos desfavoráveis, é um momento de alta complexidade emocional e exige preparo técnico e humano por parte das equipes de saúde. De acordo com a psicóloga Beatriz Ávila, facilitadora do tema “Comunicação de notícias difíceis: diagnóstico e prognóstico”, o ideal é que a informação seja transmitida por profissionais que já acompanham o caso, pois isso reforça a confiança de pacientes e familiares.
Além da estrutura institucional, Beatriz ressalta que o maior desafio está no impacto emocional que essa função provoca em quem comunica. “É comum que profissionais desenvolvam uma calosidade emocional como forma de proteção, mas isso pode afastá-los do vínculo humano com o paciente”, alerta. Para ela, o autoconhecimento e o cuidado com a saúde mental da equipe são tão importantes quanto a preparação técnica. A comunicação deve ser planejada em conjunto, com respeito às decisões coletivas e escuta entre os membros da equipe. "Não é uma tarefa exclusiva do médico. Todos os profissionais da equipe multiprofissional podem — e devem — participar desse momento", finaliza.
Legislação para a visibilidade
Sancionada em 17 de julho de 2023, a Lei nº 14.624 institui o cordão de fita com desenhos de girassóis como símbolo nacional de identificação de pessoas com deficiências ocultas. A legislação promove uma padronização identificativa e o respeito às pessoas com deficiências que não são imediatamente visíveis, como transtornos mentais, intelectuais ou condições neurológicas, entre outras. O símbolo, de uso facultativo, pode ser exibido em espaços públicos e privados para sinalizar a presença ou o atendimento a pessoas com esse tipo de deficiência, contribuindo para a inclusão, acessibilidade e combate ao preconceito.
Sobre a Ebserh
O HU-UFS faz parte da Rede Ebserh desde outubro de 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Diego Martin