O projeto Corais de Maré, referência na recuperação dos recifes da Baía de Todos-os-Santos (BTS), em Salvador, anunciou a criação da Rede de Restauração do Brasil, iniciativa que irá unir projetos da Bahia, Paraíba e Pernambuco. O anúncio foi feito nesta sexta-feira (26), durante o II Workshop Corais de Maré - Comunidade, Ciência e Futuro Sustentável, realizado no Auditório do Instituto de Geociências (IGEO), da Universidade Federal da Bahia (UFBA), no Campus Ondina. O evento apresentou ao público o progresso do trabalho desenvolvido pelo Corais de Maré, iniciativa patrocinada pela Braskem e que, em apenas três anos, já transplantou 2.285 colônias de corais, recuperando uma área de 7 mil m² no fundo do mar.

Idealizado pela startup Carbono 14, em parceria com a UFBA e o Instituto de Pesca Artesanal de Ilha de Maré (IPA), o Corais de Maré adota uma metodologia inovadora: utiliza suportes de plástico acoplados a bases feitas com esqueletos do Coral-sol, espécie invasora da região, para produzir sementeiras e cultivar o coral nativo Millepora alcicornis. Trata-se de um procedimento inédito, que alia ciência, inovação e engajamento comunitário.

Nestes três anos de atividades, o Corais de Maré alcançou excelentes resultados com o uso do polietileno na aceleração do crescimento vertical dos corais. O material possibilitou uma redução de 50% no tempo de crescimento do coral nativo, avançando de 7 cm em seis meses para os mesmos 7 cm em apenas três meses.

O CEO da Carbono 14 e idealizador do Corais de Maré, José Roberto Caldas, mais conhecido como Zé Pescador, destacou que a união das iniciativas dos três estados é de extrema importância para a restauração dos recifes na costa nordestina. “Esta parceria, que inclusive envolve as secretarias de meio ambientes dos estados, nos proporcionará uma troca de informações importante, a possibilidade de fazermos intercâmbios, para cada um ver como os outros estão trabalhando”, salientou.

"A Braskem tem muito orgulho em apoiar o Corais de Maré, uma iniciativa única que une ciência, iniciativa privada e sociedade civil organizada. Ao longo dos últimos anos, vimos resultados concretos que comprovam o impacto positivo desse trabalho para o equilíbrio ambiental e para a preservação da biodiversidade marinha”, aponta Magnólia Borges, gerente de Relações Institucionais da Braskem.

Workshop - O evento desta sexta-feira reuniu as diferentes vozes que constroem o Corais de Maré. “O workshop é a chance de mostrarmos à sociedade o progresso do nosso projeto, então apresentamos nossa iniciativa de restauração de recifes de corais e, mais importante, o modelo de parceria que une a universidade e outros setores para resolver problemas reais - algo que a academia não faria sozinha”, ressaltou o professor doutor Igor Cruz, especialista em Oceanografia Biológica da UFBA.

Representantes da comunidade de Ilha de Maré no projeto, Claudiane Anjos Santos, Alana Carvalho de Jesus e Talita Santana falaram, entre outros assuntos, sobre o trabalho que realizam de manutenção dos berçários. “É um orgulho fazer parte de algo tão importante e contribuir de forma positiva para a conservação do ecossistema marinho na minha região”, afirmou Talita.

Da Bahia para o mundo - O impacto do projeto tem gerado reconhecimento: em 2024, o Corais de Maré foi vencedor do Prêmio Bahia Sustentável, concedido pela Secretaria do Meio Ambiente (Sema) da Bahia. Nascido no coração da Baía de Todos-os-Santos, a iniciativa ultrapassou as fronteiras do estado e já atravessou o Atlântico. Em junho deste ano, o projeto participou da 3ª Conferência dos Oceanos da Organização das Nações Unidas (ONU), na cidade de Nice, na França, a convite da embaixada francesa.

Além disso, no início deste mês, integrantes do Corais de Maré foram até Pernambuco para uma viagem de intercâmbio, na qual se reuniram com representantes de órgãos públicos ligados à gestão costeira e oceânica e com outras entidades de restauração de corais. Eles realizaram visitas técnicas e compartilharam o trabalho que realizam na Baía de Todos-os-Santos.

Por Gabriel Gonçalves