
Equipe no treinamento / Foto: Divulgação Mempodera
ONG ligada ao esporte aposta em capacitação contínua para fortalecer a equipe e ampliar o impacto
Dificilmente uma organização alcança sucesso sem que sua equipe esteja unida por um objetivo comum. Essa lógica se aplica a diversos setores e, igualmente, às Organizações da Sociedade Civil (OSCs). Para além de gestores competentes, boa estrutura de trabalho e um ambiente harmonioso, é importante que a equipe esteja engajada e atualizada, seja com as melhores práticas ou nos assuntos do cotidiano da organização.
“A formação continuada valoriza a equipe e mostra que a instituição se importa com a qualidade do programa oferecido e também com o bem-estar e desenvolvimento das profissionais”, destaca Paula Korsakas, consultora em esporte, desenvolvimento humano e equidade de gênero. Ela atuou na construção da metodologia da Mempodera, organização sem fins lucrativos que oferece atividades de wrestling e inglês introdutório ao esporte de forma gratuita para crianças e adolescentes, entre de 6 e 17 anos
Na organização, quando as jovens saem de férias, é hora da equipe se capacitar. A metodologia utilizada nos núcleos preza por espaços seguros — para garantir que as meninas sintam-se acolhidas durante as atividades —, por este motivo, um dos dias da capacitação é focado na psicologia. O outro busca reforçar como o ensino da luta está sendo aplicado nas unidades de atendimento. “A prática pedagógica cotidiana é a principal fonte de conhecimento da formação continuada que, por meio da práxis — da reflexão sobre suas próprias práticas de maneira crítica e curiosa — permite que as educadoras aprimorem suas competências pedagógicas”, afirma Paula.
A missão de educar ensinando uma luta
Embora as capacitações do meio e final do ano sejam as principais, toda sexta-feira a equipe de monitores e professores participam de uma reunião pedagógica, que tem o objetivo de sempre atualizar assuntos rotineiros. “Trazemos temas e situações do dia a dia, tanto de atividades quanto de leituras ou algum assunto para trabalhar com a equipe, além dos assuntos inegociáveis. Temos uma preocupação muito grande com isso, então para nos posicionarmos, precisamos entender primeiro. Das atividades, o que acontece na rotina de cada núcleo faz a gente refletir em equipe”, ressalta Mayara Graciano, coordenadora da Mempodera.
“Além disso, durante o ano todo a equipe faz alguns cursos sugeridos por nós – sempre referente à metodologia – e que são assuntos importantíssimos para terem o conhecimento e trabalhar a desconstrução. Entre as sugestões deste ano estiveram temas como prevenção de abuso e assédio, racismo no esporte e diversidade”, complementa Mayara. Todos os assuntos abordados durante cursos e capacitações são focados no ensino do esporte, sempre pensando de forma lúdica, mas com propósito, que é a missão da Mempodera.
Nas capacitações deste ano, por exemplo, a equipe pôde aprofundar ainda mais as práticas esportivas e educacionais durante o dia de treinamento com Paula. “Nosso encontro de formação teve o objetivo de refletirmos sobre as relações de poder no ensino do esporte e das lutas e, a partir de um olhar feminista e antipatriarcal, recriar práticas educativas que promovam empoderamento ao estimular a autonomia, criatividade e liderança das meninas aprendizes”, diz Mayara ?
Suporte psicológico para a equipe
Desde 2022, a Mempodera investe na formação e no bem-estar da equipe por meio da psicologia. Durante todo o ano, o acompanhamento é feito visando o cuidado com questões surgidas nas relações interpessoais. Os encontros são mensais e feitos de forma virtual com toda a equipe reunida. Quando necessário, é feito de forma individualizada. As sessões abordam assuntos trazidos pelos grupos e envolvem a resolução de problemas e o fortalecimento de qualidades e potencialidades, além de trocas por meio do estímulo ao pensamento crítico e propositivo.
“As pessoas profissionais reconhecem o diferencial desse trabalho e valorizam o espaço criado para as reflexões, que buscam cuidar e enriquecer a atuação delas, seja no cumprimento das tarefas previstas para cada função ou na melhoria das relações que estabelecem rotineiramente com as meninas”, explica a psicóloga Ângela Bernardes, que atua na Mempodera.
Quando há as capacitações nas férias, a psicóloga se reúne presencialmente com o grupo. No último encontro, o objetivo foi de construir um espaço de reflexão com temas pertinentes ao exercício da prática educativa. “A equipe se sente valorizada e disposta a continuar o desempenho de suas funções, com novas ideias e postura. É fundamental a existência de espaços para se pensar a condição individual na prática profissional. Onde existem pessoas, existirão divergências, conflitos, discordâncias, processos de tomada de decisão que envolvem outras pessoas, entre outros, e tudo isso é trabalhado nos encontros”, afirma a psicóloga.
Por Sabrina Fernandes