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Lilih Curi e Josi Varja?o | Imagem: Denison Malheiros
Segredo Filmes destaca protagonismo feminino e acessibilidade em suas produções
Liderada pelas cineastas Josi Varjão e Lilih Curi, desde 2013, a produtora audiovisual baiana Segredo Filmes valoriza a força feminina na gestão e em suas obras. Filmes como ‘Carmen’ (2013) e ‘Teresa’ (2014) focam na mulher, abordando temas sociais como violência doméstica, deficiências, adoção, lesbofobia e maternidade compulsória.
Em 2025, finalizam dois curtas documentários: ‘Restauro’, um filme sobre a ausência de memórias através de fotografias durante a infância de Josi Varjão, e ‘Moira’, que tem a personagem principal com deficiência visual decorrente da Síndrome de Stargardt. Também entra em pré-produção do novo curta de ficção ‘Angélica’. Nos próximos meses, o curta ‘Anastácia’, que é estrelado por Josi e tem roteiro e direção de Lilih, estreia em festivais. O filme foi um dos 05 curtas brasileiros selecionados pelo Kinoforum e SPCine para exibição em sessão fechada para a indústria no Short Film Market do 47º Festival Internacional de Curta-Metragem de Clermont-Ferrand, na França, em fevereiro deste ano.
Lilih Curi explica a motivação: “A gente sempre se questionou: O que eu quero falar? Por que eu quero falar? Porque a gente está sempre num lugar de invisibilidade, sendo mulheres e lésbicas. No caso de Josi, sendo mulher negra, nordestina. E por que não falar sobre o que nos atravessa? Os nossos filmes são denúncias, fazem pensar. A gente não dá conta de tratar das nossas denúncias no documentário, seria muito doloroso pra gente. Por isso, fazemos as ficções”.
A presença feminina por trás das câmeras também é crucial. Josi Varjão defende a necessidade de cotas para mulheres cis e trans no audiovisual: “Temos agora os indutores nos editais, isso conta um pouco, mas não resolve. Nós precisamos de cotas! Somos mais de 50% da população consumindo o que os homens criam e produzem. Assim, como há cotas pra negros, indígenas, pessoas com deficiência, precisamos de cotas pras mulheres cis e trans. Isso tem que virar política pública - pelo menos 50% - na Bahia, no Brasil. Isso deve ser uma política nacional. Ainda estamos longe dos 50%, infelizmente. Quando conquistarmos isso, estaremos vivendo em um país mais justo, livre da dominação do homem, num país democrático de direito. Isso é o feminismo: a equidade de direitos entre homens e mulheres, pondo fim à discriminação e as desigualdades.”
Outros temas transversais nas histórias contadas pela Segredo Filmes são a acessibilidade e a deficiência.Filmes como ‘Carolina’ (deficiência física), ‘Carmen’ (deficiência auditiva) e ‘Preciso Falar Sobre ELA’ (Esclerose Lateral Amiotrófica) buscam personagens complexos e representativos. “Acreditamos em personagens mais complexos, que refletem o que somos: ninguém é uma coisa só. ‘Carolina’ não é apenas uma pessoa com deficiência, ela é uma mulher, uma nordestina, uma artista. ‘Teresa’ não é apenas uma pessoa negra, ela é uma mulher que foi abandonada pelo marido. Então, todos os temas que a gente aborda nos nossos filmes falam diretamente do feminino, das questões do nosso gênero”, comenta Lilih Curi.
A presença da deficiência nas famílias das realizadoras (o pai de Lilih tinha surdez e o pai de Josi, deficiência física) influencia em suas obras. “Acreditamos na acessibilidade como prática social. Isso é o mínimo que a gente pode fazer com os nossos conteúdos”, afirma Josi Varjão.
Com 12 anos de atuação em Salvador e outras capitais, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, a Segredo Filme, que também inclui Vicente Rodrigues e Thiago Sale, promove um audiovisual diverso e democrático. Seu catálogo, com foco em gênero, violência e deficiência, inclui ‘Distopia’ (2020) e ‘Menino’ (2024). As produções firmaram contratos com canais como Canal Brasil e Futura, e com plataformas como Globoplay.
A produtora também realiza ações de formação e difusão, como a Mostra Acessível de Curtas e o Cineclube Clara de Assis. Contemplada por prêmios e editais como o PNAB/BA (2024) e LPG Salvador (2023), a Segredo Filmes capta recursos em 2025 para novos projetos de longa e séries, além de iniciativas de difusão e formação. Lilih Curi conclui: “Que a gente contribua para a criação de mais conteúdos dirigidos e protagonizados por mulheres, com mais histórias que reflitam o nosso feminismo plural: que as diferenças sejam motivos para as pessoas desejarem estar juntas, se conhecerem, conhecer a cultura um do outro e não um motivo para se apartar do outro.”
Por Natália Carneiro