
Representantes da International Leprosy Association confirmam Congresso Mundial no Brasil com Marco Andrey e Claudio Salgado, representantes da Sociedade Brasileira de Hansenologia, em Bali / Foto: Divulgação
Brasil será sede do Congresso Mundial de Hanseníase em 2028: conquista histórica anunciada em Bali
Em um momento histórico e carregado de emoção, o Brasil foi oficialmente escolhido como país-sede do 23º Congresso Mundial de Hanseníase, que acontecerá em 2028. O anúncio foi feito pela International Leprosy Association (ILA) na madrugada desta terça-feira, 9 (horário local), durante o congresso mundial realizado na Indonésia.
A proposta brasileira foi liderada pela Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH), representada no evento por membros da entidade. Marco Andrey Cipriani Frade, presidente da SBH, iniciou a construção da candidatura há três anos, com articulações lançadas ainda em 2022, no Congresso Mundial realizado na Índia.
Ao anúncio da confirmação do Brasil como sede, Cipriani Frade fez um discurso emocionado perante entidades e especialistas de inúmeros países que se encontram no maior evento global da Hansenologia – “As pessoas estão sofrendo muito. Por isso, devemos ir a campo não apenas para estudá-las, mas para tomar ações significativas que ajudem aqueles que vivem ali”, disse. Ele citou o sofrimento de milhões de pessoas no Brasil e ao redor do mundo que estão excluídas de suas famílias, da escola, da sociedade, do trabalho, mutiladas por sequelas que deveriam ter sido evitadas ou tratadas precocemente e passando por todo tipo de preconceito.
O presidente da SBH ressalta que “a decisão de sediar o evento no Brasil reconhece o papel de destaque da SBH no combate à hanseníase e ao preconceito, nas contribuições com o governo brasileiro para o enfrentamento à doença, no diálogo aberto diretamente com a sociedade em campanha educativa e nas pesquisas científicas que estão revolucionando o cenário com tecnologias já incorporadas ao SUS”. A entidade reúne um corpo técnico altamente qualificado, com especialistas e pesquisadores que acumulam expressiva produção científica publicada em revistas de referência, nacionais e internacionais.
Além disso, pesou na escolha a atuação robusta da SBH na formação continuada de profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS), capacitando médicos, enfermeiros e agentes de saúde para o rastreio, diagnóstico e tratamento da hanseníase em todo o território brasileiro — experiência considerada replicável, estratégica e de custo acessível para outros países que ainda enfrentam a doença como problema de saúde pública. Há alguns anos, artigo publicado por hansenologistas ligados à SBH, na respeitável na The Lancet Infectious Diseases, já alertava autoridades mundiais sobre países em condições sanitárias e socioeconômicas piores que o Brasil e silenciosos no diagnóstico da doença que tem forte determinação social.
A SBH também mantém há dez anos uma campanha educativa de grande alcance, intitulada “Todos contra a Hanseníase”, com grande mobilização junto à sociedade civil e apoio de organizações públicas e privadas, voltada ao diálogo direto com a população para ampliar a conscientização e combater o preconceito relacionado à hanseníase. Outro marco recente foi o lançamento de um curso gratuito de especialização para médicos do SUS no Estado do Mato Grosso há três anos, ampliando o acesso à formação especializada em regiões com maior incidência da doença.
A confirmação do Congresso Mundial no Brasil reforça o protagonismo da SBH no cenário internacional e impulsiona a luta global pela eliminação da hanseníase como problema de saúde pública.
No discurso feito na cerimônia, o presidente da SBH disse:
“Existem muitas formas diferentes de alcançar um futuro positivo em relação à hanseníase. Precisamos realmente melhorar a atuação clínica antes de simplesmente reconhecermos a deficiência.
Também precisamos considerar a importância de reduzir o estigma. As pessoas estão sofrendo muito. Por isso, devemos ir a campo não apenas para estudá-las, mas para tomar ações significativas que ajudem aqueles que vivem ali... então... desculpem, estou bastante emocionado.
Estou feliz em receber todos vocês em nosso país. É realmente um grande prazer fazer algo juntos para tornar o mundo um lugar melhor. Muito obrigado por esta oportunidade.”
A candidatura brasileira contou com o apoio institucional de Ministério da Saúde do Brasil e Embratur, Academia Brasileira de Neurologia, Colégio Ibero Latino-Americano de Dermatologia, Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, Morhan, Prefeitura e Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro.
Por Blanche Amancio Silva