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"Cartas para uma Jovem Gorda", novo trabalho da Zona Agbara, estreia dentro da Estação São Bento do Metrô
Nos dias 27 e 28 de novembro, às 13h, a Zona Agbara, grupo artístico que aborda a violência contra corpos femininos negros e gordos, estreia seu novo trabalho “Cartas para uma Jovem Gorda” dentro da Estação São Bento do Metrô. Trata-se de uma instalação-performance que ocupa as ruas com gestos poéticos e insurgentes contra a gordofobia. A ação convida o público a partilhar um rito de afeto e resistência, em que intérpretes-criadoras entregam cartas escritas por mulheres gordas, negras e ativistas, repletas de palavras de cuidado, enfrentamento e amor radical.
Entre trios, duos e solos, corpos dançam como manifestos vivos, desafiando padrões estéticos ao resgatar a beleza como experiência plural e libertadora. Inspirada no poema “Eu-Mulher”, de Conceição Evaristo, a performance transforma o espaço urbano em território de cura, escuta e reexistência.
A proposta nasce da urgência em revelar as cicatrizes invisíveis que a gordofobia institucionalizada inscreve nos corpos - uma violência cotidiana e estrutural que se disfarça como norma, mas rouba direitos elementares: saúde, mobilidade, pertencimento e dignidade. “Em uma sociedade que transforma corpos em mercadoria e define a magreza como símbolo de sucesso, o corpo gordo - sobretudo o corpo gordo e negro - é alvo de exclusão, assédio e precarização. E quando uma mulher gorda dança, ela reordena o espaço. Seu corpo não pede licença, ele funda outro modo de existir”, explica Gal Martins, diretora artística da Zona Agbara.
Como denuncia Naomi Wolf em “O mito da beleza”, a ideologia estética tornou-se um eficiente dispositivo de controle social. Há nove anos, a Zona Agbara investiga e se contrapõe a esse mecanismo com a força da dança: revela a gordura e a pele negra como territórios de potência e invenção estética; é a dança que se escreve na pele e no chão, onde o corpo é pensamento, rito e revolta.
Durante as três horas que acontecem a performance - ou até que as 600 cartas de cada sessão se esgotem - intérpretes da Zona Agbara ocupam o espaço urbano com uma coreografia que mescla dança, presença e ocupação. “Cada carta que entregamos é também um espelho. Elas devolvem humanidade a quem tantas vezes foi reduzida a número, piada e rótulo. É sobre reconstruir a autoestima como ferramenta de liberdade”, pontua Suzana Araúja, que assina a provocação coreográfica.
As cartas são escritas por artistas, pensadoras e ativistas gordas e negras, além de participantes dos laboratórios de criação, realizados no 5º Encontro Corpo Gordo na Cena, dirigido pelo grupo. São palavras que nascem de experiências reais, transformadas em conselhos, memórias e gestos de cuidado. Segundo Gal: “Cada entrega é um ato de cura e um convite à existência sem concessões. A rua se torna palco e território simbólico, instaurando uma dramaturgia do encontro, onde arte e vida se entrelaçam em um tempo dilatado de escuta e afeto. Cartas para uma Jovem Gorda é mais do que uma obra: é um dispositivo de cura, arquivo vivo e ritual de amor radical”.
“Cartas para uma Jovem Gorda” faz parte do projeto Poéticas da Flacidez - Segundo Rito, contemplado pela 37° edição do Programa Municipal de Fomento à Dança - Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa.
Sobre a Zona Agbara
Zona Agbara é um coletivo artístico que afirma a visibilidade e a valorização da produção de mulheres pretas e gordas, tendo a dança como ferramenta central de transgressão e afirmação estética e social. O nome não é por acaso: AGBARA, em iorubá, significa potência e força: conceitos que sustentam e inspiram toda a nossa trajetória.
Serviço
“Cartas para uma Jovem Gorda” - Zona Agbara
Datas: 27 e 28 de novembro de 2025
Horários: quinta e sexta, às 13h
Local: Pátio São Bento - Praça da Colmeia | Largo São Bento, nº 109 - Centro Histórico de São Paulo - São Paulo/SP
Entrada gratuita
Classificação: 16 anos
Duração: 180 minutos
Ficha Técnica
Concepção e Provocação Coreográfica: Gal Martins
Provocação Coreográfica: Suzana Araúja
Intérpretes-Criadoras: Obanifé, Gi Ganju, Suzana Araúja, Gal Martins, Madu Alves, Rosângela Alves e Jessica do Carmo
Ambiência Sonora: Dani Lova
Texto: O elenco
Figurinos e Adereços: Alma Luz Adélia
Direção de Produção: Dani Lova
Assistente de Produção: Ana Paula Almeida
Operação de Som: Dani Lova
Fotografia: Lua Santana
Designer Gráfico: Bruno Marcitelli
Assessoria de Imprensa: Marrese Assessoria
Redes Sociais: Dica Cultural Plural
Apoio: Cooperativa Paulista de Dança
Realização: Sesc Florêncio
Agradecimentos: Fábrica de Cultura Capão Redondo e Baba Flávio Asé Olokun
Por Patrícia Marrese
