
Psicólogo e Mestre em Psicologia Vladimir Nascimento/Foto: Arquivo O Candeeiro
ARTIGO - SETEMBRO AMARELO = Por Vladimir Nascimento
Quando uma pessoa atenta contra sua própria vida não é simplesmente porque quer acabar com ela, mas para colocar fim ao sofrimento. Apesar dos inúmeros julgamentos e rótulos destinados a essas pessoas (doentes, fracas, sem Deus, etc), seus tormentos e angústias são imensos e possivelmente já tentaram buscar uma saída de diversas formas – e o suicídio é a última. Ou seja, se a morte se oferece como a única saída para uma pessoa é porque sua dor ou desilusão já se tornou insuportável.
O suicídio não é um evento singular, que acontece por acaso, e sim resultado de anos de sofrimento e tentativas frustradas de superá-lo. Por isso é importante estarmos atentos aos sinais (isolamento, mudança brusca de comportamento, automutilação, etc) que essas pessoas apresentam antes de chegar ao último estágio. E apesar de uma parte das pessoas que tentaram ou cometeram o suicídio terem apresentados problemas mentais mais severos, a grande maioria não apresenta esses problemas de ordem mental. Entretanto, vítimas de quaisquer tipos de violência, discriminação, preconceito, Bullying, vivem estresses mais agudos e intensos, o que pode facilitar as ideações ou o próprio ato suicida.
Por isso pode-se atestar que o suicídio não é um ato individual, mas social. É um ato cometido contra si, contra o outro e contra a sociedade. Então, faz-se necessário uma autorreflexão sobre nossa corresponsabilização social por esse problema. Quando uma criança deixa de estudar por ser vítima de Bullying na escola; quando uma pessoa é vítima de discriminação religiosa no seu trabalho; quando uma mulher é vítima de violência decorrente do machismo; enfim, quando essas vítimas se matam pode-se afirmar que houve um assassinato disfarçado de suicídio. Estamos vivendo em uma sociedade autodestrutiva que através do descaso, individualismo, insensibilidade, acabamos contribuindo – geralmente sem perceber – para o aumento dessas estatísticas de suicídio.
E esse ato acontece em todas as faixas etárias, ou seja, crianças e adolescentes também se matam (realidade cada vez mais presente em nosso cotidiano). Mas, se nossos jovens e crianças estão sem perspectivas para uma realidade melhor, o que podemos esperar para nosso futuro? A crueldade do mundo está atingindo até a fase que deveria ser do encanto, do brincar, da descoberta, da esperança… Reitero a provocação: será que essas crianças e adolescentes estão mesmo se matando ou estamos assassinando-as?
Devemos com urgência nos sensibilizar com as dores alheias, sem nos esquivar ou fingir que nada está acontecendo. Nesse mundo egoísta e individualista precisamos emprestar nossos ouvidos para acolher o sofrimento do outro que, às vezes mesmo vivendo sob o mesmo teto, não percebemos, ou fingimos não perceber. Quando essas pessoas são ouvidas abre uma possibilidade de atenuar sua dor e, consequentemente, uma nova forma de ver o mundo – obviamente, sem negar a existência dos problemas, mas conseguindo também perceber os encantos da vida.
Vladimir de Souza Nascimento
Psicólogo, mestre em Psicologia (UFBA), escritor e Palestrante.
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