O Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros está chegando à sua 25ª edição e, como de costume, começa a ganhar forma pela arte. O cartaz da edição comemorativa acaba de ser lançado e traz, mais uma vez, o traço inconfundível de Moacir Faria, artista nascido e criado na Vila de São Jorge (GO), cuja obra acompanhou o Encontro desde o início. Nesta semana, Moacir partiu. Sua despedida marca também um rito coletivo de celebração de uma trajetória artística singular e potente, que passou a ser reconhecida em importantes galerias do país, mas que nasceu nos muros, postes, chãos e paredes de uma vila encravada no coração do Cerrado goiano.

Moacir nunca deixou a Chapada dos Veadeiros, mas sua arte circulou por onde ele mesmo nunca pisou. A estética de seus desenhos — híbrida, simbólica, explosiva — compõe o imaginário visual do Encontro de Culturas e é também uma das marcas mais reconhecidas do festival. Filho de garimpeiros, Moacir desenhou pela primeira vez aos sete anos, usando carvão do forno a lenha. Nunca frequentou escolas de arte, mas desenvolveu uma linguagem própria que explora o dualismo entre o sagrado e o profano, mesclando santos, diabos, flores, genitálias, animais do cerrado e símbolos que ele mesmo inventava, guiado por uma intuição que não cabia em convenções. 

Com dificuldades na fala e na audição, encontrou na arte uma forma de se comunicar com o mundo. A isso, a crítica convencionou chamar de "arte-bruta". No Encontro de Culturas, a escolha sempre foi outra: reconhecer e valorizar o gênio popular que transformou sua condição em potência criadora.

“Moacir é o artista por trás da identidade visual do Encontro desde a sua origem. Foi com ele que o evento ganhou autenticidade e passou a ser reconhecido visualmente em todo o Brasil. Sua arte é símbolo do que somos e do que defendemos: um compromisso com os artistas do interior, com as expressões culturais que nascem longe dos centros e com os saberes que brotam da terra. Moacir ancestralizou e agora é semente viva pelo mundo”, diz Juliano Basso, articulador cultural e coordenador do Encontro, que este ano acontece com patrocínio da Petrobras, via Lei Nacional de Incentivo à Cultura.

Edição comemorativa acontece em setembro

Realizado pela Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge e pela Aldeia Multiétnica, o Encontro de Culturas Tradicionais é patrimônio cultural imaterial de Goiás e um dos mais longevos festivais do país dedicados às culturas populares. Desde 2001, já recebeu mais de 500 mil pessoas, promoveu mais de 600 shows, 200 rodas de conversa e outras centenas de vivências. A edição de 2025 será realizada entre os dias 13 e 20 de setembro na Vila de São Jorge, com uma programação que inclui apresentações de mestres, povos indígenas e quilombolas, oficinas, rodas de conversa, fóruns, vivências e seminários. A obra final de Moacir Faria, artista da casa, sintetiza esse espírito: é arte que pulsa com o Cerrado, que fala pelos cantos e pelos símbolos, e que nos lembra que toda estética carrega a ética da escuta, do cuidado e da partilha.

Serviço

XXV Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros
De 13 a 20 de setembro de 2025
Vila de São Jorge – Alto Paraíso de Goiás (GO)
Realização: Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge e Aldeia Multiétnica
Patrocínio: Petrobras, via Lei Nacional de Incentivo à Cultura