
Foto: Ellen Morais
22ª edição do CINEMATO celebra o cinema amazônico com uma programação potente de curtas, longas e atividades culturais gratuitas em Cuiabá
De 14 a 20 de julho, a capital mato-grossense recebe a 22ª edição do Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá – CINEMATO, que este ano bateu recorde de inscritos e confirma sua atuação como um dos principais festivais da região Centro-Oeste e um dos mais antigos do Brasil.
Com o tema “Decolonizando a Amazônia” e uma homenagem ao cineasta Silvino Santos (1886–1970), reconhecido como o “cineasta da selva” por sua contribuição pioneira ao registro audiovisual da Amazônia no século XX, o evento propõe uma reflexão contemporânea sobre a construção do importante território e bioma da Amazônia, destacando narrativas e sujeitos que muitas vezes são marginalizados.
A programação gratuita traz 62 filmes de 19 estados do Brasil (SC, TO, SE, AL, MG, BA, RS, DF, MT, AM, PR, CE, PB, SP, PE, GO, RN e ES) dividas nas Mostras Competitivas de Curtas e Longas-Metragens, Cinema Escola, Hors Concours, Melhor Idade, Cinema Paradiso e Sessão Queimada Cuiabana – a maioria das sessões acontece no Teatro da UFMT em Cuiabá, e o Prêmio Dira Paes. na região Centro-Oeste.
Para Luiz Borges, cineasta e coordenador do CINEMATO há mais de 30 anos, realizar um dos festivais de cinema mais antigos do Brasil e do Centro-Oeste é um desafio constante. A cada edição enfrentamos dificuldades de produção e outros obstáculos, mas as conquistas e contribuições do evento para o cinema brasileiro e mato-grossense nos motivam a seguir em frente. O CINEMATO impulsionou a realização de filmes em todo o país e especialmente em nosso estado, além de contribuir para a formação de técnicos e profissionais do audiovisual e a construir uma plateia apaixonada pelo cinema brasileiro.
Abertura
O evento abre no dia 14 de julho com uma sessão especial do documentário restaurado “Amazonas, o Maior Rio do Mundo”, de Silvino Santos – que contará com uma trilha sonora ao vivo executada pelos musicistas Henrique Santian e Jhon Stuart. Realizado entre 1918 e 1920, o filme retrata a paisagem, os ciclos econômicos e o cotidiano ribeirinho da região em impressionantes imagens em preto e branco. A obra, considerada perdida por quase um século, foi redescoberta em 2023 na República Tcheca. A sessão também marcará o início da homenagem oficial ao cineasta luso-brasileiro, autor de clássicos como “No Paiz das Amazonas” (1921), que documentou as relações de trabalho e as transformações na floresta durante o ciclo da borracha.
Filmes em Competição
Neste ano, 21 filmes – 6 longas e 15 curtas nacionais – foram selecionados para concorrer ao Troféu Coxiponé, inspirado na etnia bororo que habitava as margens do Rio Coxipó, símbolo da resistência cultural em Mato Grosso. A curadoria priorizou obras com diversidade estética e narrativa, protagonismo de grupos historicamente invisibilizados e conexões com o tema da Amazônia decolonial.
Os longas da Mostra Competitiva são "Mawé", de Jimmy Christian (AM), ficção que narra o conflito de uma jovem indígena entre os rituais de sua aldeia e a vida urbana; "Pedra Vermelha", de Cassemiro Vitorino e Ilka Goldschmidt (SC), documentário que acompanha comunidades impactadas por megaprojetos no Sul do país; "Kopenawa: Sonhar a Terra-Floresta", de Marco Altberg e Tainá de Luccas (RJ), que mergulha no pensamento cosmológico yanomami; "O Silêncio das Ostras", de Marcos Pimentel (MG), um ensaio sensorial sobre luto e meio ambiente; "Concerto de Quintal", de Juraci Júnior (RO), que transforma a música em instrumento de resistência e pertencimento; "Serra das Almas", de Lírio Ferreira (PE), que revisita a poética sertaneja em uma obra de ficção.
Já na Mostra de Curtas-Metragens, foram selecionados: "Maira Porongyta – o aviso do céu", de Kujãesage Kaiabi (MT), "Albuesas", de Glória Albues (MT), "Reagente", de Bruno Bini (MT), "Cabeça de Boi", de Lucas Zacarias (MG), "O Enegrecer de Iemanjá", de Uê Puauet (PR), "Tapando Buracos", de Pally e Laura Fragoso (AL), “Benção” (BA), “Dandara” (GO), “Coisa de Preto” de Pâmela Peregrino (SE), “Linda do Rosário” de Vladimir Seixas. (RJ), “Marcos, o Errante” de Thiago Brandão (BA), “O Último Varredor” de Paulo Alípio e Perseu Azul (MT), “A Nave Que Nunca Pousa” de Ellen de Morais, (PB), “Arame Farpado” de Gustavo de Carvalho (SP), “Mãe” de João Monteiro (RS).
A programação traz ainda a Mostra Hors Concours que exibirá obras recentes e premiadas, como: "60 Anos Depois", de Flávio Ferreira (MT), mostra as profundas cicatrizes deixadas pela ditadura nos anos 60 no Brasil, "Cobra Canoa", de Enio José de Oliveira Staub (AM/ 2025), Doéthiro Álvaro Tukano retorna ao Alto Rio Negro no Amazonas em busca de seus ancestrais;"Peixe Morto", de João Fontenele (CE), dois amigos caminhoneiros enfrentam um problema mecânico e são ajudados por uma mulher, e "Passárgada", de Dira Paes (RJ), uma ornitóloga solitária de 50 anos mergulha em uma viagem sensorial de resgate dos seus desejos. Para completar, a Sessão Queimada Cuiabana exibirá “Passagem Secreta", de Rodrigo Grota (PR), filme com Arrigo Barnabé, que mostra a trajetória de Alice que é obrigada a se mudar sozinha para uma pequena cidade.
Antes do inicio da Mostra, o Cinemato realiza, desde de 1993, o Cinema Paradiso que leva filmes a presídios, hospitais e abrigos, ação que transforma o cinema em ferramenta de reabilitação social e humanização, e o Cinema Itinerante, promovendo exibições gratuitas em bairros periféricos, aldeia indígena e quilombo.
Prêmio Dira Paes
Na cerimônia de encerramento, marcada para o dia 20 de julho, a atriz Dira Paes retorna ao festival onde recebeu seu primeiro prêmio de Melhor Atriz em 1996 por "Corisco & Dadá". A artista entregará pessoalmente o Prêmio Dira Paes, que homenageia mulheres com atuação de destaque no audiovisual e em causas socioambientais. O nome da homenageada desta edição será revelado no palco, como parte da celebração de trajetórias que transformam o cinema brasileiro.
30 anos de história
Desde sua primeira edição em 1993, o Festival de Cinema de Cuiabá (originalmente Mostra de Cinema e Vídeo de Cuiabá) surgiu como um ato de resistência cultural. Em um estado onde as salas de exibição se limitavam a um único cinema comercial, o evento ousou trazer o cinema nacional para as plateias mato-grossenses, revelando-se não apenas um espaço de exibição, mas um projeto pedagógico e político que transformou a cena cultural local.
O evento formou gerações que hoje atuam no audiovisual mato-grossense e brasileiro. O Cinemato foi palco de primeiras consagrações de grandes nomes como Dira Paes, que recebeu aqui seu primeiro prêmio de Melhor Atriz por “Corisco & Dadá” (1996), Fernando Meirelles, premiado por “Domésticas” (2001) antes de ganhar o mundo com “Cidade de Deus” (2002), e Hilton Lacerda, diretor e roteirista de “Tatuagem” (2014), entre outros.
Com realização do Instituto INCA-Inclusão, Cidadania e Ação, patrocínio do Governo do Estado de Mato Grosso, via Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel-MT), parceria com a Pró-Reitoria de Cultura, Extensão e Vivência (Procev – UMFT), Primeiro Plano Cinema e Vídeo e Canal Brasil, tem o apoio da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT), Secretaria Municipal de Cultura, Cineclube Coxiponés -UFMT, Curso de Cinema e Audiovisual da UFMT, Rede Cineclubista de Mato Grosso (REC-MT), TV Centro América, Cinemateca Brasileira e Sociedade Amigos da Cinemateca que entram mais uma vez como apoiadora do Festival, onde vai ceder parte do acervo de Silvino para ser exibido nesta edição.
SERVIÇO
22ª edição do Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá – CINEMATO
De 14 a 20 de julho de 2025
Teatro da UFMT – Cuiabá (MT)
Entrada gratuita
www.festivalcinemato.com.br
Instagram: @festivalcinemato
|
|
"Concerto de Quintal", de Juraci Júnior (RO) |
|
|
|
|
|
"Mawé", de Jimmy Christian (AM) |
|
|
|
"O Silêncio das Ostras", de Marcos Pimentel (MG) Por Valéria Blanco |