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ARTIGO - Como a BR do Mar pode transformar a logística nacional? = Por Maria Gimena Scott
A
regulamentação do programa BR do Mar representa um passo importante
para o transporte marítimo no Brasil, ao reforçar como a cabotagem pode
ser uma alternativa mais competitiva e sustentável, além de abrir espaço
para mais embarcações, novas rotas e, naturalmente, mais oportunidades
de trabalho.
No
entanto, vale lembrar que o decreto regulamenta o programa BR do Mar,
cuja adesão é voluntária. Ao optar por participar, a Empresa Brasileira
de Navegação (EBN) passa a contar com condições específicas para ampliar
sua frota, especialmente por meio do afretamento por tempo. Dessa
forma, a modalidade fica condicionada ao uso de embarcações sustentáveis
em determinadas situações, alinhando a expansão da cabotagem aos
compromissos ambientais do país.
O
decreto também trouxe uma inovação relevante ao tratar do afretamento a
casco nu previsto nos §§ 1º a 4º do art. 10 da Lei nº 9.432/1997.
Nessas hipóteses específicas, passou a ser exigido que as embarcações
atendam aos critérios de “embarcação sustentável”. Embora a medida
reforce a agenda de segurança ambiental e social, os parâmetros
concretos ainda dependem de portaria, o que mantém o setor em
expectativa quanto à definição objetiva dos requisitos. Esse ponto
reforça a necessidade de maior clareza regulatória, essencial para
garantir previsibilidade e segurança a investimentos de longo prazo.
De
modo geral, a regulamentação fortalece a competitividade ao atrair
novos players, ampliar as opções de afretamento e desburocratizar
processos. Isto faz com que a cabotagem se torne mais acessível e
eficiente, contribuindo para uma matriz de transporte equilibrada.
Com
mais de oito mil quilômetros de costa, o Brasil tem vocação natural
para o transporte marítimo. A navegação costeira desponta como
peça-chave para reduzir custos logísticos, mitigar gargalos do
transporte rodoviário e impulsionar o desenvolvimento regional. Diversas
análises do setor indicam o grande potencial de crescimento da
cabotagem de contêineres nos próximos anos, com benefícios relevantes
também para a agenda ambiental, já que cada carga transferida do modal
rodoviário para o marítimo representa redução significativa de emissões
de CO?.
Além
de sustentável, a navegação costeira atende empresas de diferentes
portes em todas as regiões, democratizando o acesso logístico e
fortalecendo a integração nacional. Ao oferecer um modal seguro,
competitivo e de longo alcance, gera impactos positivos que vão muito
além do setor marítimo, alcançando toda a economia brasileira.
Capaz
de reduzir custos logísticos e impulsionar o desenvolvimento e a
inovação da indústria naval, a navegação costeira pode ser considerada o
xeque-mate da logística brasileira. Reconhecê-la como um pilar
estratégico da competitividade nacional, integrando-a a uma matriz de
transporte mais inteligente, sustentável e resiliente, é indispensável.
Portanto, a regulamentação da BR do Mar representa um avanço relevante, mas somente com visão de longo prazo, infraestrutura adequada, incentivos corretos e clareza regulatória será possível consolidar a cabotagem como base de uma logística moderna, resiliente e alinhada às exigências globais de sustentabilidade.
Maria Gimena Scott é CFO da Norcoast desde 2023, com mais de uma década de experiência em finanças corporativas no setor marítimo e de logística. Atuou por mais de dez anos na Hapag-Lloyd AG ocupando posições de liderança com foco em planejamento orçamentário, gestão de talentos, Corporate Finance e Business Intelligence. Graduada pela Universidad de la República em Uruguay e MBA em Gestão Empresarial pela FIA, combina expertise técnica e visão estratégica para impulsionar resultados e transformações empresariais.
