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ARTIGO - SporTV à CazéTV: a transformação do consumo de esportes em duas décadas = Por Matheus Felipe
Você se lembra de quando assistir a um jogo importante significava sentar diante da TV aberta, sem opção de escolher narrador ou ângulo de câmera? Durante anos, essa foi a única experiência disponível. Mas, no início dos anos 2000, começou a migração da TV aberta para a TV paga, liderada pelos consumidores de maior poder aquisitivo, em busca de variedade, exclusividade e qualidade de transmissão. Foi a era de canais como SporTV e ESPN, que transformaram o consumo esportivo e tornaram-se referência para quem não queria perder nenhum detalhe.
Esse cenário, no entanto, abriu espaço para um novo salto. A ascensão do streaming, na década de 2010, trouxe a hiperpersonalização do consumo. Agora, não bastava assistir ao jogo, era possível escolher quando, onde e como assistir. Plataformas como a Amazon Prime Video, que transmite partidas do Brasileirão, ou a Netflix, que investe em documentários e experimentos ao vivo no esporte, mostraram que o futuro da experiência esportiva estava na integração entre tecnologia, conveniência e personalização. A audiência, antes refém da grade fixa da TV, passou a ditar suas próprias regras.
Mas o ciclo não parou por aí. Estamos assistindo à consolidação de uma “nova TV aberta”, só que digital. A CazéTV é o exemplo mais emblemático, são transmissões gratuitas, de alta qualidade, acessíveis em qualquer dispositivo e capazes de alcançar milhões de pessoas simultaneamente.
Segundo o portal esportivo “Lance”, a transmissão do Mundial de Clubes garantiu números expressivos para a CazéTV. No YouTube, a cobertura alcançou 51,7 milhões de dispositivos, um crescimento de 20,2% em relação às Olimpíadas de Paris 2024, que somou 43 milhões. A democratização do conteúdo digital abriu espaço para que o público volte a consumir em massa, mas agora sem barreiras de acesso, basta estar conectado. A criação da GE TV, tentando competir diretamente nesse segmento, mostra que não se trata de um fenômeno isolado, mas de uma tendência irreversível.
O que isso revela sobre o comportamento do consumidor? Primeiro, que a busca por conveniência e autonomia é mais forte do que a fidelidade a um modelo tradicional. O espectador atual valoriza a liberdade de escolher e rejeita amarras de pacotes caros e restritivos.
Além disso, há uma demanda crescente por experiências comunitárias, mas em ambientes digitais, onde milhões assistem juntos, comentam no chat e interagem em tempo real. E, por fim, a “democratização” do acesso ao entretenimento de qualidade é um caminho sem volta. Hoje, o consumidor não quer só assistir, ele quer participar.
A televisão, como a conhecíamos, não acabou. Ela só mudou de lugar — e agora cabe no bolso de cada torcedor. Cada tela é uma porta aberta para um estádio lotado, sem ingresso, sem fronteiras e sem limitações.
Matheus Felipe é mercadólogo, especialista em gestão de mídias sociais, gestão comercial e marketing digital, mestrando em educação e novas tecnologias. É professor do Centro Universitário Internacional – Uninter, onde é tutor no curso superior de Gestão de Mídias Sociais.