O advogado-geral da União, Jorge Messias, durante entrevista no programa "Bom Dia, Ministro" desta quinta-feira (31) - Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
Advogado-geral da União, Jorge Messias destaca os principais pontos do novo acordo de Mariana
O ministro
Jorge Messias, advogado-geral da União (AGU), detalhou nesta
quinta-feira, 31 de outubro, durante sua participação no programa “Bom
Dia, Ministro”, diversos pontos referentes à assinatura da Repactuação
do Termo de Transação de Ajustamento de Conduta de Mariana, realizada na
última sexta-feira (25), em cerimônia no Palácio do Planalto. O acordo
envolve representantes do Governo Federal e das empresas responsáveis
pela tragédia causada pelo rompimento da Barragem do Fundão, em 5 de
novembro de 2015.
“Quando o
nosso governo assumiu, nós encontramos um acordo que tinha sido
renegociado em 2018 a partir do primeiro acordo, que tinha sido feito em
2016, e este acordo era extremamente problemático”, lembrou Jorge
Messias.
“O acordo
atribuía todas as obrigações para as empresas: a indenização das
pessoas, a recuperação do meio ambiente, a recuperação da bacia do Rio
Doce, a construção de casas, a construção de infraestrutura, a
construção dos hospitais, centros de atendimento à saúde, à população,
aos CRAS. Tudo isso era obrigação das empresas”, continuou.
“As
empresas tinham se comprometido com o poder público a atender às suas
obrigações por meio de uma fundação chamada Fundação Renova. Quem é de
Minas Gerais e do Espírito Santo sabe dos problemas que essa fundação
tem e teve no passado. Dia 5 de novembro, infelizmente, completam nove
anos da tragédia. Dezenove pessoas morreram, três pessoas ficaram
desaparecidas, mais de 1,2 milhão de pessoas foram diretamente atingidas
na região da bacia do Rio Doce”, frisou o ministro.
O novo
acordo, assinado pelas empresas Samarco (responsável pela barragem do
Fundão), Vale (brasileira) e BHP Billiton (anglo-australiana), que
controlam a Samarco, e pela Advocacia-Geral da União (AGU), governadores
de Minas Gerais e Espírito Santo, Procuradoria-Geral da União (PGR) e
Defensoria Pública da União prevê o pagamento de R$ 132 bilhões em
dinheiro novo.
Desse valor, R$ 100 bilhões devem ser pagos em até 20 anos pelas empresas envolvidas na tragédia ao poder público para serem aplicados em diversas destinações. Cabe às companhias a destinação de outros R$ 32 bilhões para custeio de indenizações a pessoas atingidas e de ações reparatórias que permanecerão sob sua responsabilidade.
Acompanhe os principais pontos de Jorge Messias no “Bom Dia, Ministro” referentes ao acordo sobre a tragédia de Mariana:
GOVERNANÇA
Havia uma demanda de pegar o recurso e pulverizar o recurso. Aí teria
o efeito aerosol. Esse valor ia ser pulverizado e a população atingida
da Bacia do Rio Doce não ia receber de fato aquilo que tinha direito. O
presidente Lula também atendeu a reivindicação histórica dos atingidos e
disse que os recursos vão para os atingidos. Ou seja: o recurso tem que
ser gasto na região da Bacia do Rio Doce. São 49 municípios da Bacia do
Rio Doce que serão contemplados. Os recursos do Governo Federal serão
geridos por um fundo pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e
Social, pelo BNDES. Esse fundo financeiro vai ser aplicado nessas ações
que serão efetivamente apresentadas pelas populações atingidas, que
serão apresentados pelos ministérios, que serão apresentados pela
Defensoria, pelo Ministério Público. A governança desse recurso é uma
governança que vai garantir transparência, prestação de contas, e vai
garantir, sobretudo, eficiência no gasto. Esse é o nosso compromisso.
Nós estamos em fase final de construção de um decreto da governança
desse sistema, que vai prever um conselho federal com a participação
popular, para que as pessoas possam apresentar, a partir de comitês
temáticos de saneamento, de saúde, de pesca, as suas propostas.
PARTICIPAÇÃO POPULAR
A preocupação do governo é fazer com que a cooperação prevaleça, a
cooperação entre os estados e a cooperação entre as representações da
sociedade civil. A premissa desse acordo é colocar o povo nele. Colocar o
povo nele é dizer como vai gastar, orientar o gasto e fiscalizar o
gasto. Nós, quando assumimos, ouvimos primeiro quem? As pessoas. O
ministro Márcio Macêdo, da Secretaria-Geral, fez uma ampla escuta às
comunidades. Onze cidades, três mil pessoas, plenárias, prefeitos foram
ouvidos. Eu me reuni diversas vezes com vários atingidos, um
representante dos atingidos, principalmente o Movimento dos Atingidos
por Barragens, que é um movimento social importante. Também ouvi
diversas vezes os presidentes e relatores das comissões externas, da
Câmara dos Deputados e da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, para
entender quais eram as preocupações da população. Foi um acordo feito
com o povo, atendendo às preocupações da população. Eu queria dizer para
vocês uma coisa que é muito importante, que neste processo a gente
precisa desmistificar: nós atendemos, na celebração desse acordo, a uma
reivindicação histórica do movimento social e da população. A população
nos pediu que o Estado brasileiro, que o Governo Federal e que o governo
dos estados assumissem as obrigações que as empresas não estavam
cumprindo.
HOMOLOGAÇÃO E REQUERIMENTOS
Nós estamos esperando que o acordo seja homologado pela Justiça. Nós
celebramos o acordo, peticionamos à Justiça, ao Supremo Tribunal
Federal, e pedimos agora que o acordo seja homologado. A partir do
momento da homologação do acordo, as empresas farão o pagamento. Esse
pagamento diretamente às pessoas que fizeram o requerimento. O Governo
Federal vai acompanhar todo esse processo. É a partir do requerimento
que vai ser disponibilizado para as pessoas. E vai ser feito diretamente
junto às empresas para que as empresas possam fazer o pagamento. Em que
prazo? 150 dias. A expectativa é de que até junho do ano que vem, no
prazo limite, junho ou julho, todas as pessoas que tiveram o seu
requerimento contemplado terão a sua indenização paga. Nossa obrigação é
acompanhar efetivamente o cumprimento dessa obrigação.
BRASIL OU LONDRES
O acordo que nós fizemos foi um acordo na Justiça brasileira para
encerrar ações no Brasil. Não fizemos acordo na justiça de Londres. O
governo brasileiro atua na justiça brasileira. Nós não temos nada a ver
com essas ações de Londres. Isso aí é uma questão que envolve
diretamente as empresas e que envolve as pessoas que foram a Londres e
os municípios. Respeitamos as pessoas que aderirem a este programa. É
voluntário, ninguém está obrigado a requerer e a aderir. Quem aderir,
evidentemente, está optando pela justiça brasileira. As pessoas não
podem ser indenizadas duas vezes pelo mesmo fato. Então, se a pessoa
requerer a indenização aqui, nas condições que foram negociadas, ela vai
estar abrindo mão da ação de Londres. Mas não é uma questão coletiva. É
uma questão individual. As pessoas que preferirem esperar Londres e o
resultado de Londres e o tempo de Londres é uma questão que vai de
acordo com avaliação individual. Da nossa parte, da parte do governo
brasileiro, o que a gente tem que fazer? Levar informação de qualidade
para as pessoas. Nós estamos, neste momento, construindo um acordo de
cooperação com a Defensoria Pública da União para que nós possamos levar
as informações e os direitos da população, para que a população, bem
informada, possa tomar sua decisão de forma livre e voluntária.
INDENIZAÇÃO INDIVIDUAL
Ao longo de nove anos, só 112 mil pessoas foram indenizadas. De um
total em torno de 600, 700 mil pessoas. Efetivamente, as pessoas que
foram indenizadas foram as que comprovaram algum dano material: perdeu
um carro, perdeu uma casa, perdeu renda, reduziu o consumo, reduziu uma
atividade econômica no comércio. A grande maioria não recebeu. Essa é a
verdade. A grande maioria teve seu pedido negado na Justiça ou pela
Fundação Renova. O que é que nós fizemos? Nós conseguimos negociar um
valor de R$ 35 mil por pessoa. Sendo que, se for agricultor ou pescador,
o valor é R$ 95 mil. A média varia em torno de 400 mil pessoas. Entre
300 e 500 mil pessoas poderão ser alcançadas. De uma forma simplificada,
a partir de um simples requerimento, sem burocracia. Essas pessoas
terão, depois de nove anos, direito à indenização. E olha que não vai
precisar comprovar dano. Porque essas pessoas, inclusive, não tinham
mais condição de acessar a Justiça. Muitos tinham seu direito prescrito
aqui no Brasil.
AÇÕES COLETIVAS
Quando é que vai chegar (o dinheiro) para as ações coletivas? Em 30
dias. As empresas têm 30 dias para pagar a primeira parcela, no valor de
R$ 5 bilhões. Nós vamos esperar que em torno de novembro, ou começo de
dezembro, entre a primeira parcela. Esse valor vai ser alocado de acordo
com esses itens como saneamento, educação, etc. E está prevista uma
outra parcela, em 2025, no valor de R$ 6 bilhões, e uma outra parcela,
no valor de R$ 7 bilhões, no ano de 2026. Portanto, são R$ 18 bilhões no
intervalo de 18 meses. O acordo de R$ 100 bilhões, ele vai em 20 anos. O
valor é corrigido pela inflação para garantir o poder real de compra.
Mas, no intervalo de 18 meses, entrarão R$ 18 bilhões. É importante
explicar para a população de Minas Gerais e do Espírito Santo como é que
fica o acordo. Uma parte das obrigações ainda continua com as empresas.
Todas as casas, as estradas, os postos de saúde, todas as
infraestruturas urbanas que estavam sendo feitas pela Fundação Renova,
as empresas terão a obrigação de concluir.
A QUESTÃO AMBIENTAL
Ao longo de nove anos as empresas não foram capazes de fazer, de
fato, o trabalho ambiental na recuperação das bacias, na recuperação das
nascentes, no reflorestamento daquela região. Na saúde coletiva, não
construíram os postos de saúde, os hospitais de referência. Aquela
população foi muito atingida pelos minérios pesados que foram liberados
ali com o rompimento da barragem do Fundão. Na educação, ciência,
tecnologia e inovação tem um trabalho fundamental. Programas de retomada
econômica para investimento no trabalho, na recuperação do tecido
produtivo daquela região que foi afetada. Então, o que é que o Estado
brasileiro fez? Um trabalho conjunto do Governo Federal e do Governo dos
Estados com o presidente Lula liderando. Nós assumimos essas
obrigações. Só que para isso as empresas tinham que indenizar e pagar o
Estado. O que é que nós identificamos? Que o valor que tinha sido
negociado no governo anterior era insuficiente. Sabe para quanto nós
aumentamos o valor? R$ 132 bilhões. Mais do que dobramos de dinheiro
novo para atendimento à população, para cada item que foi solicitado:
saúde coletiva, pesca, agricultura familiar, quilombolas, populações
indígenas, educação, ciência, tecnologia e inovação, trabalho, emprego e
renda.
APOIO ÀS MULHERES
Tem R$ 1 bilhão no acordo destinado às mulheres. Exclusivamente às
mulheres. Porque as mulheres foram discriminadas ao longo desses nove
anos no seu direito legítimo de reparação. Agora, as mulheres terão
prioridade, a pedido do governo do presidente Lula.
OS REJEITOS
As empresas terão a obrigação de concluir um pedido nosso: a retirada
de nove milhões de metros cúbicos de rejeito de minérios extremamente
tóxicos na região da Bacia do Rio Doce e o reassentamento de Paracatu de
Baixo. É uma demanda também da população. Essas obrigações também
continuam com as empresas. Tem que monitorar todos esses metais pesados,
o que está causando na saúde da população, na fauna e na flora daquela
região.
DANO À AGUA
Tem um item que é importante informar, até porque a população de
Mariana vai ser muito beneficiada, que é o pagamento do chamado dano à
água. Vinte mil pessoas terão direito ao valor de R$ 13 mil pelo chamado
dano à água. Quando teve a tragédia, muitas pessoas ficaram dias,
meses, sem ter água, sem ter o direito à água. Então, consumiram água de
péssima qualidade, com comprometimento à sua saúde. Essas pessoas foram
à justiça, algumas ganharam, outras não ganharam. Então, 20 mil
pessoas, pela nossa negociação, vão ser contempladas com o valor de R$
13 mil de indenização pelo chamado dano à água. E esse valor vai ser
muito voltado para a população do município de Mariana, que foi a
primeira a ser vitimada por esse triste episódio. Além disso, eu acho
que é importante, porque nessa região existem várias comunidades
tradicionais, várias comunidades quilombolas e várias comunidades com
populações indígenas.
O “Bom Dia, Ministro” é um programa semanal realizado pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e pela Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República. Participaram desta edição a Rádio Nacional - EBC (Brasília/DF); Rádio BandNews (Vitória/ES); Rádio Antena Esportiva (Rio de Janeiro/RJ); Rádio Mariana FM (Mariana/MG); Rádio Bandeirantes (São Paulo/SP); Rádio O Liberal (Belém/PA) e Rádio O Tempo (Belo Horizonte/MG).
Fonte: Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República