
Foto: Divulgação / Cordenadoria de Imprensa do Porto de Recife
Contas externas têm saldo positivo de US$ 2,79 bilhões em junho
Por Andreia Verdélio
As
contas externas tiveram saldo positivo de US$ 2,791 bilhões em junho,
informou hoje (27) o Banco Central (BC). No mesmo mês de 2020, também
houve superávit de US$ 3,056 bilhões nas transações correntes, que são
as compras e vendas de mercadorias e serviços e transferências de renda
com outros países.
De acordo com o chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando
Rocha, o resultado é ligeiramente inferior ao registrado no ano passado
em razão do aumento do déficit na conta de serviços, em especial de
viagens, e do aumento das despesas líquidas com rendas primárias (lucros
e dividendos). “E esses dois fatores foram contrabalançados pelo
aumento do superávit comercial”, explicou.
“Tanto o aumento dos déficits com viagens quanto com lucros e dividendos
são consistentes com a trajetória de recuperação da economia [após os
efeitos críticos da pandemia de covid-19]”, complementou Rocha, no caso,
o aumento da demanda por serviços, com as viagens de brasileiros para
fora do país, e das transações de empresas estrangeiras no país que
remetem lucros ao exterior.
Em 12 meses, encerrados em junho, houve déficit em transações correntes
de US$ 19,637 bilhões, 1,27% do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos
bens e serviços produzidos no país), ante o saldo negativo de US$ 19,372
bilhões (1,27% do PIB) em maio de 2021 e déficit de US$ 53,751 bilhões
(3,25% do PIB) no período equivalente terminado em junho de 2020.
No acumulado do ano, o déficit é de US$ 6,975 bilhões, contra saldo negativo de US$ 13,261 bilhões de janeiro a junho de 2020.
Balança comercial e de serviços
Segundo o BC, as exportações de bens
totalizaram US$ 29,100 bilhões em junho, aumento de 65,4% em relação a
igual mês de 2020. As importações somaram US$ 21,812 bilhões, incremento
de 81,1% na comparação com junho do ano passado. Com esses resultados, a
balança comercial fechou com superávit de US$ 7,288 bilhões no mês
passado, ante saldo positivo de US$ 5,878 bilhões em junho de 2020.
A autarquia destacou , no mês passado, o registro de exportações de US$
791 milhões (US$ 37 milhões em junho de 2020) e de importações de US$
2,5 bilhões (US$ 221 milhões em junho de 2020) no âmbito do Repetro. O
Repetro é o regime aduaneiro especial, que suspende a cobrança de
tributos federais, de exportação e de importação de bens que se destinam
às atividades de pesquisa e de lavra das jazidas de petróleo e gás
natural, principalmente as plataformas de exploração.
O déficit na conta de serviços (viagens internacionais, transporte,
aluguel de equipamentos, entre outros) manteve a trajetória de retração,
com saldo negativo de US$ 1,614 bilhão em junho, ante US$ 1,041 bilhão
em igual mês de 2020.
No caso das viagens internacionais, as receitas de estrangeiros em
viagem ao Brasil chegaram a US$ 228 milhões, enquanto as despesas de
brasileiros no exterior ficaram em US$ 449 milhões. Com isso, a conta de
viagens fechou o mês com déficit de US$ 221 milhões, ante déficit de
US$ 72 milhões em junho de 2020.
De acordo com Rocha, esta é uma conta muito sensível aos efeitos da
pandemia e das taxas de câmbio. Após uma longa redução das viagens de
brasileiros ao exterior, agora vê-se o aumento de tais despesas, o maior
desde março de 2020, mês já impactado pela pandemia, que foi de US$ 612
milhões.
Por outro lado, lembrou Rocha, no ano de 2019 , essas despesas chegavam,
em média, a US$ 1,5 bilhão. “O resultado mostra que há recuperação, mas
ainda muito longe dos padrões pré-pandemia, na conta de viagens
internacionais.”
Rendas
Em junho de 2021, o déficit em renda
primária (lucros e dividendos, pagamentos de juros e salários) chegou a
US$ 3,119 bilhões, contra US$ 2,011 bilhões no mesmo mês de 2020. No
caso dos lucros e dividendos, houve aumento do déficit de US$ 228
milhões para US$ 1,584 bilhão na comparação interanual do mês de junho, o
que, segundo Rocha, também aponta para a normalização da atividade
econômica.
Ele explicou que essa conta sempre é deficitária, já que há mais
investimentos de estrangeiros no Brasil, que remetem os lucros para fora
do país, do que de brasileiros no exterior, e que receitas e despesas
estão crescendo em relação aos patamares muito baixos do ano passado.
“Dessa forma, devemos esperar maior contribuição dos lucros e dividendos
para a redução do superávit corrente à medida que a economia se
recupera”, disse.
A conta de renda secundária (gerada em uma economia e distribuída para
outra, como doações e remessas de dólares, sem contrapartida de serviços
ou bens) teve resultado positivo de US$ 235 milhões, contra US$ 229
milhões em junho de 2020.
Investimentos
Os ingressos líquidos em investimentos
diretos no país (IDP) somaram US$ 174 milhões no mês passado, ante US$
5,165 bilhões em junho de 2020. O BC destaca que houve ingressos
líquidos de US$ 2,468 bilhões em participação no capital. Por outro
lado, as saídas líquidas em operações intercompanhia (como o pagamento
de empréstimos da filial no Brasil para a matriz no exterior) somaram
US$ 2,294 bilhões.
Além disso, de acordo com Rocha, a conta de lucros reinvestidos no país
também foi menor, o que contribui para a redução do IDP. Para o diretor
do Departamento de de Estatísticas do BC, esses fatores são normais nas
empresas estrangeiras, que podem remeter os lucros para a matriz ou
reinvestir no Brasil, e acontecem algumas vezes dentro da série
histórica.
Nos 12 meses encerrados em junho de 2021, o IDP totalizou US$ 46,629
bilhões, correspondendo a 3,02% do PIB, em comparação a US$ 51,619
bilhões (3,38% do PIB) no mês anterior e US$ 65,826 bilhões (3,98% do
PIB) em junho de 2020.
Quando o país registra saldo negativo em transações correntes, precisa
cobrir o déficit com investimentos ou empréstimos no exterior. A melhor
forma de financiamento do saldo negativo é o IDP, porque os recursos são
aplicados no setor produtivo e costumam ser investimentos de longo
prazo. Para o mês de julho de 2021, a estimativa do Banco Central para o
IDP é de ingressos líquidos de US$ 4,7 bilhões.
O estoque de reservas internacionais atingiu US$ 352,486 bilhões em
junho de 2021, diminuição de US$ 962 milhões em comparação ao mês
anterior. O resultado decorreu de retornos líquidos de US$ 870 milhões
em linhas com recompra e variações negativas de US$ 1,880 bilhão e de
US$ 580 milhões em paridades e preços, respectivamente. A receita de
juros atingiu US$ 423 milhões.
Revisão 2020
Nesta terça-feira, o BC também apresentou os
resultados da pesquisa de Capitais Brasileiros no Exterior (CBE) do ano
passado, com um estoque de US$ 558 bilhões de investimentos brasileiros
fora do país em 31 de dezembro de 2020. A partir desses e de outros
dados, o BC faz a revisão das estatísticas do setor externo.
Para o ano de 2020, o efeito líquido total desta revisão ordinária
elevou em US$ 1,8 bilhão o déficit em transações correntes, de US$ 24,1
bilhões (1,7% do PIB) para US$ 25,9 bilhões (1,8% do PIB).
O déficit na conta de renda primária de 2020 foi revisado de US$ 38,2
bilhões para US$ 39,7 bilhões. O BC destaca os lucros de investimento
direto no exterior (receita de lucros) e no Brasil (despesa de lucros).
De acordo com Rocha, os dados indicam que os efeitos da pandemia foram
menores do que as estimativas anteriores, especialmente na lucratividade
das empresas brasileiras que atuam no exterior.
As receitas somaram US$ 13,1 bilhões em 2020, US$ 9,7 bilhões acima da
estimativa de US$ 3,4 bilhões anterior ao resultado do CBE anual em
2020. As estimativas das despesas de lucros de investimento direto foram
revisadas para US$ 28,8 bilhões em 2020, US$ 10,8 bilhões acima da
estimativa de US$ 17,9 bilhões.
A revisão também aumentou em US$ 10,5 bilhões o ingresso líquido de IDP
em 2020, de US$ 34,2 bilhões (2,4% do PIB) para US$ 44,7 bilhões (3,1%
do PIB), fundamentalmente em função do maior volume de lucros
reinvestidos pelas empresas estrangeiras no país.
Fonte: Agência Brasil