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Expectativa de vida das mulheres volta a crescer e amplia vantagem sobre os homens, aponta IBGE
A nova Tábua da Mortalidade do IBGE revelou que a expectativa de vida do brasileiro atingiu 76,6 anos em 2024, o maior índice já registrado desde o início da série histórica, em 1940. Em 2023, esse número era de 76,4 anos. O levantamento também confirma uma tendência conhecida: as mulheres continuam vivendo mais do que os homens. Em 2024, elas alcançaram expectativa de vida de 79,9 anos, enquanto a dos homens foi de 73,3 anos — uma diferença de 6,6 anos. Historicamente, essa vantagem feminina já foi menor, como em 1940 (5,4 anos), e atingiu seu ápice no ano 2000, quando chegou a 7,8 anos.
Segundo o professor Eduardo Batista, coordenador dos cursos de História e Sociologia da EAD UniCesumar, essa diferença é resultado de um conjunto de fatores. “A maior expectativa de vida das mulheres no Brasil está relacionada principalmente a aspectos comportamentais, biológicos e sociais. Elas tendem a adotar mais hábitos preventivos, se expõem menos a riscos e têm menor envolvimento em violência urbana e acidentes. Além disso, há diferenças hormonais e genéticas que favorecem maior proteção cardiovascular”, explica.
Os dados do IBGE também apontam índices preocupantes de sobremortalidade masculina, especialmente entre jovens. Em 2024, homens de 20 a 24 anos tinham 4,1 vezes mais chance de não chegar aos 25 anos do que mulheres da mesma idade. Entre os grupos de 15 a 19 anos e 25 a 29 anos, a taxa ficou em 3,4 e 3,5, respectivamente. Para o especialista, o fenômeno está diretamente ligado à violência urbana. “Os altos índices de violência envolvendo jovens homens explicam parte significativa dessa sobremortalidade. Eles são mais expostos a homicídios, acidentes de trânsito e situações de risco, o que reduz drasticamente a expectativa de vida nessas faixas etárias”, afirma. O professor destaca ainda o impacto da urbanização acelerada do país. “A concentração de desigualdade e criminalidade em grandes centros reforça a vulnerabilidade dos homens jovens nesses territórios”, complementa.
O aumento geral da expectativa de vida no Brasil, segundo Batista, é resultado direto dos avanços sociais das últimas décadas. “A expansão da educação, a melhoria das condições sanitárias, o acesso a serviços públicos, a redução da pobreza e a maior conscientização sobre saúde e bem-estar ampliaram oportunidades e diminuíram riscos associados à mortalidade precoce”. No caso das mulheres, esse movimento foi ainda mais intenso. “A ampliação da atenção básica, o pré-natal, o acompanhamento ginecológico e os programas preventivos permitiram diagnósticos mais precoces, maior controle de doenças crônicas e redução de mortes evitáveis, contribuindo para que as mulheres vivam mais”, explica.
A educação, em especial, tem papel decisivo na qualidade de vida feminina. “Mulheres mais escolarizadas tendem a buscar mais informações sobre saúde, tomar decisões mais conscientes sobre alimentação e prevenção, ter maior autonomia econômica e adotar comportamentos de menor risco”, enfatiza o professor da UniCesumar. A forte presença feminina em setores como educação, saúde e serviços administrativos também contribui para ambientes de trabalho com menor exposição a riscos físicos e violência, favorecendo maior longevidade.
Além disso, hábitos cotidianos diferenciam significativamente. “As mulheres procuram mais atendimento médico, mantêm alimentação mais equilibrada, consomem menos álcool e tabaco e se expõem menos a comportamentos de risco. Também costumam cultivar redes sociais de apoio, o que impacta positivamente a saúde mental e a longevidade”, destaca Batista. Para ele, a cultura de autocuidado é mais difundida entre mulheres por questões socioculturais e pela proximidade ampliada com serviços de saúde durante a maternidade e ao longo da vida.
O aumento da participação feminina no mercado de trabalho também influenciou a longevidade. “Embora a dupla jornada possa gerar estresse, prevalecem os efeitos positivos da autonomia financeira e do acesso ampliado a cuidados”, analisa. Com a projeção de que as mulheres continuarão representando a maioria da população idosa, o professor reforça a importância de políticas públicas voltadas para esse grupo. “O envelhecimento da população feminina exige investimentos em cuidados de longo prazo, ampliação da atenção a doenças crônicas, fortalecimento da previdência e programas de envelhecimento ativo. Muitas mulheres vivem mais, mas ainda envelhecem com menor renda e maior necessidade de apoio”, conclui.
Por Priscilla Poubel
