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Projeto ‘Vamos ao Meio’: lembranças de quase duas décadas de cuidado e solidariedade no Vale do Jequitinhonha
Entre 2006 e os anos seguintes, o Projeto “Vamos ao Meio” marcou a vida de centenas de pessoas em Pedra Azul (MG) e deixou memórias inesquecíveis para estudantes de enfermagem e profissionais envolvidos. Criado pela Fundação Padre Albino em parceria com a Congregação das Irmãs de Nossa Senhora da Ressurreição, a iniciativa nasceu com a missão de levar atendimento de saúde e educação preventiva ao mesmo tempo em que proporcionava aos alunos uma experiência prática em um contexto de extrema vulnerabilidade. Segundo organismos internacionais, a região era uma das mais pobres do Brasil, com cerca de 23 mil habitantes e um baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). A falta de saneamento básico, a precariedade do atendimento médico e as más condições de vida agravavam problemas de saúde como hipertensão, diabetes, verminoses, escabiose, alcoolismo e doenças ginecológicas. Origem da missão O trabalho das Irmãs da Ressurreição na cidade começou em fevereiro de 2006, quando três religiosas fundaram uma comunidade com a missão de evangelizar e promover ações humanas e de educação. Em pouco tempo, perceberam a dimensão da carência local: cerca de 200 doentes acamados recebiam visitas, mas apenas apoio afetivo e espiritual, já que não havia formação técnica em saúde. Diante dessa realidade, surgiu a parceria com a Faculdade de Enfermagem de Catanduva, localizada na mesma cidade da Casa Mãe da Congregação, possibilitando a ida de alunos ao Vale do Jequitinhonha para atuar junto à Pastoral da Saúde. Durante a primeira imersão, as alunas da 4ª série do curso de Enfermagem — Daniela Aguiar Bellucci, Gabriela Mazutti, Irina Rubia Queiroz, Giovana R. Bertolo, Michella B. Buck, Regina P. Pereira Pardim e Roberta das Graças B. Galvão — realizaram diversas atividades de triagem e direcionamento. “Foi uma experiência transformadora pois muitas das pessoas afetadas pelo projeto tinham pouco ou nenhum contato com instituições de saúde. Então os atendimentos serviram não apenas para cuidar dessas pessoas, mas para ensiná-las sobre cuidados necessários para a saúde”, explica Roberta Galvão, uma das enfermeiras responsáveis pela primeira edição da iniciativa. Durante a primeira edição do projeto, foram realizadas 179 consultas de enfermagem, que incluíram anamnese e exame físico geral e específico, além de 82 atendimentos domiciliares. Também foram feitos 63 curativos, 100 testes de glicemia capilar, a verificação de sinais vitais em todos os atendimentos e a avaliação da dor, com encaminhamento dos casos mais graves quando necessário. Outro destaque foi o Mutirão da Mulher, que promoveu 23 consultas de enfermagem, 21 coletas de Papanicolau — com identificação de lesões de colo uterino —, exames clínicos de mama e orientações sobre o autoexame. Paralelamente, o grupo realizou ações educativas sobre hipertensão arterial, higiene bucal e corporal, cuidados com a água, prevenção de ISTs e câncer ginecológico. Para os estudantes, a experiência significou muito mais do que aplicar conhecimento técnico: foi uma oportunidade de partilha, improvisação, solidariedade e colaboração em grupo. “Ao viver essa realidade, aprendemos que a enfermeira não se limita ao ambiente hospitalar. Trata-se de estar próximo das pessoas, compartilhar valores e se adaptar a condições adversas para levar dignidade e cuidado. É uma lição humana e profissional”, ressalta Roberta. Um exemplo que permanece na memória Embora o projeto não esteja mais em atividade, suas histórias permanecem vivas na memória da comunidade e dos profissionais que participaram. O “Vamos ao Meio” se tornou um exemplo de integração entre ensino, fé e serviço comunitário, lembrando que o cuidado e a solidariedade são valores que perduram muito além do tempo de atuação do projeto. |
Por Julia Vianna