
Foto: Valter Pontes / Coperphoto/ Sistema FIEB
Mudanças tarifárias dos EUA: impacto imediato é positivo apenas para celulose baiana
O
governo dos Estados Unidos implementou novas alterações em suas tarifas
recíprocas de importação, que poderão afetar a pauta exportadora da
Bahia. A mudança veio com a assinatura da Ordem Executiva nº 14.346 pelo
presidente Donald J. Trump, em 5 de setembro, que entrou em vigor no
último dia 8. A medida redefine parte da estrutura tarifária vigente
desde o chamado "Liberation Day", em abril deste ano, e cria um
instrumento para futuros acordos comerciais: o PTAAP (Potential Tariff
Adjustments for Aligned Partners).
O principal reflexo positivo para a Bahia neste momento está
na retirada da tarifa sobre a celulose em fardos, que volta a ter
alíquota zero. Em 2024, esse item respondeu por quase US$ 96 milhões em
exportações do estado aos EUA — 11% do total exportado para o país. Além
da celulose, outros dois produtos baianos incluídos na nova lista de
exceções, um composto químico de nitrila e LED, tiveram volume
inexpressivo de exportações no ano passado e agora passam a ser
tarifados em 40%.
Por outro lado, 84 códigos tarifários foram removidos da
lista de exceções. Embora a maioria (77) já estivesse enquadrada nas
tarifas elevadas da seção 232, que impõe alíquotas de até 50% sobre
metais como cobre e alumínio, a exclusão de sete códigos relacionados a
químicos e plásticos não afeta diretamente a Bahia. Isso porque o único
produto afetado — resina epóxida — teve exportações residuais em 2024.
PTAAP: uma possibilidade para acordos futuros
A novidade mais estratégica da Ordem Executiva 14.346 é a
criação do PTAAP, mecanismo que permitirá a países considerados
“parceiros alinhados” (Aligned Partners) negociarem o retorno às tarifas
vigentes antes do “Liberation Day” — em alguns casos, equivalentes a
zero. O Brasil, no entanto, ainda não está entre os elegíveis, o que
limita os benefícios no curto prazo.
Se viesse a ser incluído no PTAAP, o Brasil poderia ver
cerca de 26,4% das exportações baianas aos EUA desoneradas. Produtos
como derivados de cacau, frutas tropicais (com destaque para manga),
ferro-cromo e café — que juntos somaram mais de US$ 150 milhões em
exportações baianas em 2024 — seguem sujeitos à tarifa de 50%.
Segundo simulações do Observatório da Indústria da FIEB, a
adesão ao PTAAP poderia ampliar o volume de exportações baianas isentas
de tarifas adicionais de 16% para 42%, embora 58% ainda permaneceriam
tarifados, mesmo nesse cenário mais favorável.
Na prática, as mudanças tarifárias dos EUA beneficiam, por
ora, apenas o setor de celulose da Bahia, que ganha maior
competitividade com a isenção tarifária. Para os demais segmentos,
especialmente os de frutas, chocolates, café e minerais, a realidade
permanece desafiadora.
A Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB)
ressalta a importância de monitorar de perto as negociações comerciais
internacionais, especialmente no contexto do PTAAP, que poderá se tornar
um instrumento central na redefinição do acesso ao mercado
norte-americano.
Fonte: FIEB