
Com 50 m², o Amado Hotel concentra cinco ambientes que compõem o lobby intimista e repleto de histórias de um fictício hotel boutique | Projeto: Frezza & Figueiredo Arquitetura e Interiores | Foto: Carolina Mossin
Repertório afetivo: A inspiração no passado para o décor de ambientes contemporâneos e mesclados com memórias
Na visão do arquiteto Gabriel Figueiredo e do designer de interiores Fabricio Frezza, responsáveis pelo escritório Frezza & Figueiredo Arquitetura e Interiores, o tempo é matéria-prima nos projetos de interiores. Cada obra de arte, móvel ou objeto decorativo antigo carrega histórias, memórias e afetos que ajudam a construir um presente mais significativo — e um futuro mais acolhedor.
Na estreia que realizaram na CASACOR São Paulo, o ambiente Amado Hotel – um lobby de hotel boutique intimista cuja essência salienta a relevância do passado como norte fundamental para a vivência de um futuro mais afetivo e humano.
Para os profissionais, com escritório em Ribeirão Preto (SP), decorar um espaço é também revisitar experiências, sentimentos e referências que nos constituem. “Ninguém é feito só de passado, de presente ou de futuro. Conviver bem com objetos decorativos que compuseram uma trajetória, seja do proprietário ou mais relacionado a um período, faz todo sentido, além de trazer conforto emocional”, defendem.
No Amado Hotel, o passado aparece de forma natural e integrada. O sofá original dos anos 1940, a cômoda de madeira com função de bar de autosserviço, as obras herdadas de família — como o retrato “O Menino Chamado Amado” —, que compõem o acervo pessoal dos profissionais ou as garimpadas: nada está ali por acaso. Cada peça ajuda a contar uma narrativa, a criar conexões e despertar lembranças que podem ser universais, mesmo partindo de vivências íntimas.
Como usar referências do passado sem deixar o ambiente datado?
De acordo com a dupla, a resposta está na ponderação entre equilíbrio e na intencionalidade. “Uma boa seleção daquilo que será usado é essencial e esse processo começa com o próprio cliente, norteando o trabalho do profissional. O que não traz boas lembranças, o aconchego emocional, não deve ficar. O contrário, sim”, sugere.
Ou seja, mais do que decorar, trata-se de interpretar um repertório com sentimentos e fazer dele a base para um espaço com alma. O datado está justamente quando acontece um excesso, que costuma acontecer quando o morador pede para compor o espaço com um volume expressivo de tudo que ele carregou ao longo dos anos.
Ainda na perspectiva dos profissionais, essa leitura dentro da arquitetura de interiores se revela especialmente atual em tempos marcados pelo excesso de descartabilidade (seja de objetos, histórias ou relações). Ao propor um olhar mais sensível e humano, o ambiente assinado por eles convida à reflexão sobre o que escolhemos guardar e exibir. “Acreditamos que essa conduta diz muito sobre quem somos e como queremos viver”, argumentam.
“O projeto contemporâneo representa uma etapa do ciclo de quem nele vive, independentemente de ser um espaço residencial ou comercial. Isso, porém, não descarta o decorrido dessa trajetória, que é o prefácio daquilo que estamos vendo ali”, apontam Frezza e Figueiredo.
O clássico é mesmo antigo?
Gabriel e Fabricio afirmam que não compartilham uma outra interpretação sobre esse o clássico. “Chamamos de ‘classudo’, na verdade. Ambientes que contam trajetórias são chiques, elegantes e emocionam”, retratam.
Tecnologia e memória de mãos dadas
Apesar do ar nostálgico, o Amado Hotel está longe de ser um espaço preso a um tempo pregresso. Nele, a tecnologia aparece como aliada silenciosa. Da automação às soluções de aromatização e iluminação cênica, tudo foi pensado para valorizar os elementos do ambiente, criando um roteiro sensorial e emocional. “É como uma peça de teatro. A luz, o som, o aroma, o cenário... tudo dialoga para contar esse enredo da melhor forma possível”, conta a dupla.
Para os profissionais, esse diálogo entre passado e presente e o uso afetuoso do que é herdado, também representa um caminho possível para a nova geração. “O jovem de hoje tem muita sede do novo, mas precisamos experimentar mais para criarmos lembranças e memórias afetivas. Só assim o repertório se forma, mas é preciso amadurecimento para alcançarmos essa conclusão”, analisam. Em suas análises, o herdado não diz respeito apenas a uma peça propriamente dita, mas também vem daquilo que aprendemos: o respeito, os valores e o entendimento. “Isso completa o décor”, verbalizam.
SERVIÇO
CASACOR São Paulo 2025
Onde: Parque da Água Branca - Rua Dona Ana Pimentel, 37 portaria G4 do PAB
Quando: até 03 de agosto de 2025
Horário de funcionamento do evento: de terça-feira a domingo, das 11h às 21h
Horário da bilheteria: de terça-feira a domingo*, das 11h às 19h
*fechamento da bilheteria física 15 minutos após o último horário. A visita poderá acontecer até às 21h.
Por Glaucia Ferreira