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Foto: Divulgação
Infertilidade feminina causada por endometriose pode ser superada
Cólicas intensas, dor na relação sexual e desconfortos intestinais são sintomas frequentemente minimizados na rotina de muitas mulheres. Mas esses sinais podem esconder uma condição séria: a endometriose, uma das principais causas de infertilidade feminina — condição que, embora grave, pode ser superada com diagnóstico precoce e tratamento adequado. Estima-se que cerca de 10% das brasileiras em idade reprodutiva convivam com a doença, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Sociedade Brasileira de Endometriose (SBE).
Em muitos casos, a endometriose está diretamente ligada à dificuldade para engravidar. A professora Fabiane Souza Lima Medeiro (39) conhece bem esse caminho. Logo após o casamento, em 2023, passou a sentir dores frequentes e intensas. “Logo percebi que havia algo errado. As dores não eram normais e começaram a interferir no meu dia a dia. Tive muito medo de não conseguir engravidar”, conta. O diagnóstico inicial apontou um mioma uterino, mas os exames também mostraram sinais de endometriose. A cirurgia para retirada do mioma foi necessária e acabou mudando sua trajetória.
Fertilidade afetada
A endometriose é uma doença inflamatória provocada pela presença de tecido semelhante ao endométrio (camada interna do útero) fora da cavidade uterina. Essa condição pode causar aderências, afetar os ovários, as trompas e outros órgãos pélvicos, dificultando ou até impedindo a fecundação natural.
“A inflamação constante e as alterações anatômicas provocadas pela endometriose dificultam o encontro do óvulo com o espermatozoide, além de afetar a implantação do embrião”, explica o cirurgião Marcos Travessa, cirurgião pélvico e coordenador do Núcleo de Cirurgia Ginecológica do Instituto Brasileiro de Cirurgia Robótica (IBCR).
Além das consequências físicas, o impacto emocional é grande. “A paciente muitas vezes passa anos em busca de um diagnóstico, e quando chega até nós, já traz não apenas dor física, mas medo, frustração e insegurança sobre a possibilidade de ser mãe”, afirma a cirurgiã ginecológica Gabrielli Tigre, também do IBCR.
Tecnologia a favor da fertilidade
Nos casos em que há indicação cirúrgica, a abordagem robótica tem se destacado como uma das mais eficazes. A tecnologia permite maior precisão, visão ampliada e movimentos mais delicados, essenciais em uma região sensível como a pelve feminina. “A cirurgia robótica proporciona uma dissecção minuciosa dos tecidos, permitindo a retirada das lesões da endometriose com segurança, o que reduz riscos e preserva estruturas importantes para a fertilidade”, explica Travessa.
Com recuperação mais rápida e menos dor no pós-operatório, o procedimento também favorece melhores resultados reprodutivos. “Quando conseguimos restaurar a anatomia pélvica com mínimo trauma, as chances de gravidez aumentam significativamente. E a robótica tem sido um diferencial nesse processo”, complementa.
Superação e nova vida
Após a cirurgia, Fabiane precisou respeitar um intervalo de seis meses antes de tentar engravidar. “Foram sete meses de espera, muita ansiedade e oração. Quando descobri que estava grávida, um ano depois da cirurgia, foi uma das maiores alegrias da minha vida”, lembra. Atualmente, ela vive uma gestação tranquila e sem complicações. “Estou com 22 semanas e me sentindo muito bem. Foi um sonho que parecia distante e hoje é realidade”, completa.
Diagnóstico precoce
Especialistas reforçam que o diagnóstico precoce e o tratamento adequado são fundamentais para preservar a fertilidade da mulher com endometriose. Infelizmente, o tempo médio até a confirmação da doença pode chegar a 10 anos. “O atraso no diagnóstico dificulta o tratamento e compromete o futuro reprodutivo. Toda mulher com dor intensa e recorrente precisa ser investigada com atenção”, alerta Gabrielli Tigre. Ainda segundo a especialista, quebrar o tabu e falar abertamente sobre a doença é parte da solução. “Normalizar a dor é o que adoece essas mulheres. Quando elas são ouvidas e acolhidas, podem encontrar caminhos de superação e cura”, conclui.
Por Cinthya Brandão