Foto: Carol AÓ
Após percorrer Norte e Centro-Oeste, projeto Circuito de Fogo chega aos quilombos e territórios tradicionais nordestinos
Um homem negro, “devidamente trajado”, monta seu tabuleiro de baiana, bate a massa do acarajé e frita os bolinhos, oferecendo, junto à comida, suas histórias, sua dança, seus afetos. Essa é a performance do artista baiano Fábio Osório Monteiro, intitulada Bola de Fogo, que percorre quilombos nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Após apresentações no Pará e em Goiás, o espetáculo de dança chega ao Piauí, na Comunidade Ribeirinha Boa Esperança, em Teresina, entre os dias 29 de outubro e 02 de novembro. Em seguida, segue para quilombos dos estados de Alagoas e Bahia, onde encerra o projeto, no mês de dezembro.
Enquanto cozinha, Fábio compartilha com a plateia uma narrativa rica que mescla mitos e itãs de origem africana com episódios de sua própria vida. Para ele, o projeto “Circuito de Fogo - Das Ruas aos Quilombos”, vai além da performance e da gastronomia, unindo arte e ancestralidade Brasil afora. “Com o Circuito de Fogo, não só a performance, mas toda a equipe, mergulha num processo de aquilombamento. Nesta circulação, percebemos que as camadas sociopolíticas que atravessam Bola de Fogo, ganham materialidade a cada comunidade quilombola visitada”, afirma Fábio Osório Monteiro, performer e coordenador geral do projeto.
Uma das cinco comunidades tradicionais que recebem o projeto Circuito de Fogo, a Comunidade Ribeirinha Boa Esperança. Atualmente, 13 bairros da Região das Lagoas compõe a comunidade. Muitas famílias, que moram na região, ergueram suas casas com as próprias mãos, inclusive confeccionando os tijolos, pois na década de 1980, a região era um pólo importante de olaria.
Das Ruas aos Quilombos
Quando foi criado em 2017, Bola de Fogo era um espetáculo de dança encenado em largos e praças por um homem negro, gay, nordestino, candomblecista e artista, vestido de baiana de acarajé, Patrimônio Imaterial do Brasil. Durante esse processo, Fábio Osório Monteiro, o artista, e o seu público interagem e comem o acarajé feito durante a apresentação.
Em cena, Fábio partilha do espaço com a performance em libras guiada por Cíntia Santos. As Libras, em Bola de Fogo, não são utilizadas apenas como tradução do português para a inclusão da população surda. Mas, transforma a oralidade, meio pelo qual a cultura afro-brasileira e as religiões de matrizes africanas se perpetuou ao longo do tempo, em dança, em movimento que através dos sinais já trazem significados em si.
Além da apresentação da performance, o Circuito de Fogo também realiza atividades nos quilombos, relacionadas à ativismo quilombola, cartografia social, eco-cultivo e sustentabilidade, com troca de saberes e experiências entre a equipe do projeto e os fazedores e fazedoras locais de cultura. Rejane Rodrigues, liderança do Quilombo Quingoma (BA), faz parte da equipe do Circuito de Fogo e é quem também articula as atividades, onde cada uma é pensada junto com a comunidade. “Por meio da educação popular e da pedagogia quilombola, buscamos fomentar ferramentas que fortaleçam esse movimento ancestral, promovendo autonomia, consciência crítica e valorização dos saberes locais.”
O espetáculo Bola de Fogo foi apresentado em diferentes espaços da cidade de Avignon (França), em oito apresentações, integrando a 59ª edição do Festival Off Avignon, no contexto do Ano Cultural Brasil-França, em julho deste ano. Logo após, a performance passou a integrar o Circuito de Fogo – Das Ruas aos Quilombos, quando iniciou suas atividades percorrendo comunidades tradicionais. Iniciou no Quilombo do Rosário, no município de Salvaterra, na região do Marajó, no estado do Pará, entre os dias 29/07 a 03/08; e no Quilombo João Borges Vieira, em Goiás, entre os dias 15 e 19 de outubro. Após a Comunidade Ribeirinha da Boa Esperança, no Piauí, o projeto Circuito de Fogo segue para o Quilombo Muquém Serra da Barriga, em Alagoas, nos dias 12 a 16/11; encerrando no Quilombo Quingoma, na Bahia, nos dias 10 a 14/12.
O Circuito de Fogo – Das Ruas aos Quilombos é realizado pela ULTIMA Plataforma e Zóio de Jabuticaba, com direção geral e performance de Fábio Osório Monteiro, direção de produção de Gabriel Pedreira, mediação quilombola feita pela liderança Rejane Rodrigues (Quilombo Quingoma).
“Circuito de Fogo – Das Ruas aos Quilombos” integra a programação do Circuito Funarte de Dança Klauss Vianna 2023, parte do Programa Funarte de Difusão Nacional, promovido pela Fundação Nacional de Artes (Funarte), vinculada ao Ministério da Cultura (MinC).
Por Natália Carneiro –
