Ludopatia: vício em jogos afeta mais de 2 milhões de brasileiros
Foto: Divulgação / O Candeeiro/Arquivo
Ludopatia: vício em jogos afeta mais de 2 milhões de brasileiros
07/06/2025
Noticias Gerais
A popularização das apostas esportivas e dos jogos online no Brasil tem acendido um alerta sobre a ludopatia – transtorno caracterizado pelo impulso incontrolável de jogar, mesmo diante de prejuízos emocionais, financeiros e sociais –, problema que afeta mais de dois milhões de brasileiros, de acordo com pesquisa do Departamento de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP).
Psicóloga e professora do curso de Psicologia da Universidade Salvador (UNIFACS), Juliana Santos explica que o vício em jogos de azar é considerado patológico quando a pessoa perde o domínio sobre o seu comportamento, sendo incapaz de controlar o tempo e dinheiro gastos, independentemente de estar ganhando ou perdendo. Não por acaso, desde 2018, esse comportamento é reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma doença.
“A ludopatia, ou jogo patológico, está relacionada com quadros patológicos de comportamento compulsivo e dependência, associado a deficiências do sistema dopaminérgico mesolímbico, associado à motivação e recompensa”, revela a psicóloga.
Atenção aos sinais
A mudança no comportamento daqueles que sofrem da patologia é progressiva e pode ter início já na adolescência, com pequenas apostas. A psicóloga lista alguns dos principais sinais que devem acender o alerta de amigos e familiares:
Preocupação excessiva com o jogo;
Necessidade de aumentar as apostas ou conseguir dinheiro para jogar;
Necessidade de jogar mais para recuperar o dinheiro perdido;
Inquietude ou irritabilidade quando diminui ou para de jogar;
Jogo como escape de problemas ou para aliviar angústias;
Esforço repetido e sem sucesso de controlar, diminuir ou parar de jogar;
Mentir sobre envolvimento com o jogo;
Cometer atos ilegais para financiar o jogo.
A especialista reforça que esse é um processo patológico com três fases distintas – cujo intervalo entre elas pode variar de 5 a 20 anos. A primeira delas é a fase da vitória, em que os sucessos consecutivos levam a uma excitação neuroquímica e a fantasia da excelência enquanto jogador. Já na fase da perda, o indivíduo aumenta o tempo e o valor gastos no jogo, que passa a comprometer seu orçamento.
Por fim, há a fase do desespero, que envolve ainda mais tempo e dinheiro gastos, afastamento das relações sociais, pânico diante da consciência da dívida e o desejo de recuperar os primeiros dias de vitória – o que o leva a jogar novamente. “Isso pode ocasionar exaustão psicológica, depressão, pensamentos suicidas e dependência de substâncias psicoativas”, revela a professora da UNIFACS, que integra o Ecossistema Ânima.
Tratamento
As formas de tratamento mais frequentes para a ludopatia envolvem a participação do paciente em grupos de apoio, como o Jogadores Anônimos, terapia de casal e família, psicoterapia individual e farmacoterapia. Pesquisas indicam que fatores genéticos, biológicos, psicológicos e sociais, tais como impulsividade, competitividade e influência de amigos ou família, podem impactar no vício.
“O jogo patológico é um transtorno de impacto significativo na sociedade, acarretando prejuízos sociais, financeiros e emocionais aos indivíduos e à sociedade, por isso, é urgente o envolvimento de todas as instituições sociais em um trabalho preventivo, principalmente para as crianças e adolescentes”, finaliza Juliana Santos.