
Adejane Santos (D) e a filha concluíram os estudos juntas na EJA do SESI. Foto: Arquivo Pessoal
Mais do que diploma: o impacto da educação materna na vida dos filhos
“Mãe
que estuda, muda a história da casa toda". A frase resume o que Adejane
Silva Santos, de 39 anos, viveu nos últimos anos. Mãe de duas meninas e
avó recente, ela voltou a estudar depois de adulta, passou pela
Educação e Jovens e Adultos (EJA) do Serviço Social da Indústria (SESI),
cursou o ensino médio com a filha e, juntas, já estão na faculdade. “A
gente levava minha netinha para a aula com a gente.Concluímos o ensino
médio de mãos dadas e hoje cursamos pedagogia. Tudo isso só foi possível
porque eu decidi retomar os estudos”.
O que o relato de Adejane traduz em emoção, a pesquisa do
Ipea reforça com dados. O estudo “O Peso do Passado no Futuro do
Trabalho: a Transmissão Intergeracional de Letramento” aponta que o grau
de escolaridade da mãe tem forte impacto na educação e no futuro
profissional dos filhos. A escolaridade materna influencia inclusive a
capacidade de manusear tecnologias, o desempenho escolar e o acesso ao
mercado de trabalho.
Adejane teve uma trajetória marcada por pausas: começou os
estudos tardiamente, casou cedo, teve a primeira filha aos 19 anos e
precisou interromper a escola várias vezes. Só retomou com regularidade
quando decidiu se mudar para ajudar a filha a concluir os estudos. “Ela
disse que ia desistir porque não tinha com quem deixar a filha. Eu
larguei tudo e vim para Teixeira de Freitas ajudar. E aproveitei para
estudar também. Juntas vencemos”.
A estudante de pedagogia relata que a influência foi
imediata. “Minha filha mais velha disse que se inspirou em mim. A
pequenininha, de 10 anos, vê minha luta, sabe que chego do trabalho e,
mesmo cansada, ligo o notebook para ver as aulas, adiantar a atividade, e
ela chega, oferece um café, já pega a bolsa dela com o caderno e se
senta do meu lado para estudar também. É uma corrente boa que começa com
o exemplo”.
O EJA SESI tem papel fundamental nessas histórias. Com mais
de 10 mil vagas abertas anualmente, o programa oferece ensino
fundamental e médio a jovens e adultos, com metodologia flexível e
ambiente acolhedor. “Nunca é tarde. Se todos os pais soubessem o quanto
isso incentiva os filhos, ninguém parava de estudar”, afirma Adejane.
Um dos principais diferenciais da EJA SESI é a Metodologia de
Reconhecimento de Saberes (MRS), que identifica e valoriza os
conhecimentos adquiridos ao longo da vida, permitindo ao estudante
reduzir o tempo de conclusão do curso. A formação é ofertada no formato
híbrido, com 80% da carga horária a distância e 20% presencial, o que
foi um fator fundamental para Adejane voltar aos estudos.
Educação para Jovens e Adultos
“Quando eu estava no SESI, a gente levava a nenenzinha, minha
netinha foi vários dias com a gente, até porque só era duas vezes na
semana. Assim concluímos juntas, graças a Deus, e ao ensino, com
professores que nos recebem de braços abertos”, contou Adejane que logo
fez o vestibular com sua filha. Ambas passaram e conseguiram uma bolsa
de 50%.
No SESI, os alunos contam com material didático exclusivo,
adaptado à sua realidade, além de acesso a uma plataforma on-line com
ambiente virtual de aprendizagem, ferramentas interativas e
acompanhamento pedagógico individualizado, feito por professores
experientes.
Há também o EJA Profissionalizante, onde os estudantes
participam de aulas práticas de qualificação em laboratórios modernos do
Serviço de Aprendizagem Industrial (SENAI). Como benefícios
complementares, a EJA oferece ainda um Programa de Saúde Bucal e, nas
cidades de Salvador, Camaçari, Ilhéus e Luís Eduardo Magalhães, um
auxílio-transporte mensal de R$150.
Ainda pensando em unir a educação ao mercado de trabalho,
neste ano, foram lançadas mais três mil vagas do chamado “SEJA PRO+”,
voltado para cursos de formação e qualificação ao público do EJA, por
meio de uma parceria com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
O programa prevê a capacitação em mão de obra nas indústrias e
noções básicas de direitos dos trabalhadores, sendo que ao final do
curso, uma lista com o nome dos alunos concluintes será encaminhada ao
MTE, para ampliar as oportunidades profissionais, já que a elevação da
escolaridade proporciona mais do que um diploma; ela abre portas para
autonomia, crescimento profissional e pessoal, como acontece com
Adejane.
Fonte: FIEB