
Aretha comemora a instalação da parede de escalada (Rosita Belinky / @robelinky)
Parede de escalada sustentável na periferia é presente de Natal de Aretha Duarte para Campinas
Aretha Duarte venceu os 8.848 metros até o cume do Everest no dia 23 de
maio de 2021 para se tornar a primeira mulher negra latino-americana a
escalar a montanha mais alta do mundo. Agora, no final de 2023, realiza o
que chama de “o seu novo Everest”, com a qual espera transformar a vida
de muitas pessoas. A montanhista e empreendedora socioambiental
batalhou e construiu uma parede de escalada aberta a comunidade na
cidade de Campinas, interior de São Paulo.
A Parede de Escalada
Sustentável está instalada no Parque Linear do Mingone, na região do
Jardim do Capivari, periferia de Campinas, onde Aretha nasceu, cresceu e
reside até hoje. “Essa é uma das minhas maiores concretizações de 2023 e
espero que seja a primeira de muitas, para que crianças, jovens
adultos, enfim, pessoas de todas as idades tenham a oportunidade de
conhecer e praticar esse esporte. Estou muito feliz”, comenta Aretha.
A
montanhista sonha com essa parede desde o retorno da Expedição Everest.
“Foi uma luta, mas conseguimos. Na verdade, demorou mais que o projeto
“da Sucata ao Everest”, que levou 12 meses e 15 dias. Para concluir a
parede levamos um pouco mais de dois anos e seis meses. Não foi fácil,
mas nos mantivemos firmes, resilientes, até que, finalmente,
conseguimos. Esse é meu sonho grande, a de realizar conquistas
coletivas. A parede está linda, em local público, aberto, democrático e
gratuito. Estou maravilhada, pois a periferia de Campinas tem uma parede
de escalada sustentável”, comenta Aretha.
A parede já está
instalada e Aretha explica que o projeto foi pensado para oferecer
escalada de forma simples e intuitiva. “O funcionamento é bem
simplificado. As pessoas podem acessar no horário do parque (6h às 20h) e
a parede fica logo na entrada principal. É chegar e fazer o esporte,
pois não dependente de monitores. Porém, procurarei estar presente o
máximo possível para interagir e orientar as pessoas, bem como convidar
escaladores para fazer o mesmo”, explica a montanista, lembrando que a
parede conta com materiais que não agridem o meio ambiente e, em parte,
composto por material reciclado.
A parede da Aretha foi
construída de acordo com os conceitos da modalidade Boulder, na qual os
escaladores sobem em paredes de 3 a 4,5 metros de altura, sem corda de
proteção. Isso porque as eventuais quedas são amortecidas por
equipamentos de proteção, como um colchão instalado por toda a área de
escalada do ginásio. No caso do parque, a areia no entorno oferece esse
amortecimento, de acordo com todas as normas de segurança da ABNT. Essa
característica garante opções para todos os níveis de atletas, desde
quem nunca praticou até atletas experientes.
A obra contou com a
parceria de uma empresa de Curitiba, pioneira em projetos de escalada
desportiva e recreativa no Brasil, a Fábrica de Formas, de Curitiba.
Foram eles que desenharam e instalaram a Parede de Escalada Sustentável
no Parque Linear do Mingone (Avenida das Amoreiras, S/N - Jardim Paraíso
de Viracopos, Campinas).
Sobre a Parede de Escalada Sustentável
A Fábrica de Formas informa detalhes sobre a construção da Parede. “A
estrutura é formada por uma estrutura mista (madeira e aço). A estrutura
primária foi construída com toras de eucalipto tratado visando a
durabilidade e resistência. Já a parede de escalada em si foi construída
em madeira compensada de alta densidade proveniente de zonas de
reflorestamento. É importante citar que as agarras foram especialmente
desenvolvidas em parceria com a empresa Bolt Holds pensando no máximo
aproveitamento da sustentabilidade. Todas elas possuem em sua composição
pedaços triturados de garrafas PET's (nos apoios de tonalidade marrom -
sem pigmento - é possível vê-los). Estes apoios foram estrategicamente
posicionados por profissional capacitado (chama-se route setter) para
garantir uma rota de escalada convidativa, segura e que passe a sensação
de superação ao chegar no topo.
Segurança
Seguem mais informações da Fábrica de Formas: “Para garantir a absorção
de impacto na descida e em caso de quedas, foi implementada uma caixa de
areia tratada e higienizada, específica para playgrounds. Também conta
com uma cobertura em telhado com beiral em projeção, que servirá como
medida de proteção adicional contra intempéries climáticas, como chuva e
sol excessivo. Além disso, o beiral também ajuda a limitar a altura da
parede a três metros, de acordo com as diretrizes da NBR 16071. Isso
proporciona sombra e conforto aos escaladores, ao mesmo tempo em que
mantém a segurança da atividade, pois evita a subida do escalador ao
topo da estrutura.”
Sobre Aretha
Nascida e
criada na periferia de Campinas, Aretha é formada em educação física e
acumula experiência de uma década no montanhismo. Já praticou o esporte
em sete países. Ganhou visibilidade após escalar a maior montanha do
mundo. Antes, já esteve no Pequeno Alpamayo (Bolivia), Campo Base do
Everest (Nepal), Vulcões (Equador), Kilimanjaro (Tanzânia), Elbrus
(Rússia), Monte Roraima (Venezuela) e, no Aconcágua (Argentina), foi 5x
chegando 4x ao topo.
Ano passado, esteve novamente na Bolívia,
dessa vez para chegar ao topo do Huisalla, Acotango, Parinacota e
Sajama. Esse último faz parte do projeto Cielos de los Andes, que tem
como objetivo subir a montanha mais alta de cada um dos sete países
andinos.
Aretha conheceu a modalidade na faculdade, aos 20 anos,
quando um professor da PUC de Campinas, quis apresentar esportes outdoor
para os alunos do curso de educação física e os levou até a Grade6,
operadora de montanhismo. Lá ela entendeu mais sobre como funciona o
esporte e se apaixonou. “Fiquei pensando: 'como nunca tinha ouvido falar
neste tipo de esporte antes?'", contou.
Entusiasmada, Aretha
tentou se aproximar da empresa, fazendo cursos de escalada em rocha.
Trabalhou de modo eventual em eventos corporativos, para em 2011 ser
efetivada. A empresa ia fazer a primeira expedição comercial ao Everest.
Carlos Santalena e o Rodrigo Raineri, na ocasião sócios e guias da
Grade6, levariam os clientes para a montanha e convidaram Aretha para
fazer parte do quadro de funcionários. "Daí em diante, comecei a
praticar escalada, trekking e expedições. Em janeiro de 2012 fui pela
primeira vez à alta montanha, no Aconcágua. Desde então, ao menos uma
vez por ano realizo expedições no pico mais alto das Américas, na
Argentina. Estive cinco vezes lá, quatro delas atingindo o cume de 6.962
metros", finaliza.
Além de montanhista, Aretha criou sua própria
empresa, é TED speaker, embaixadora ESG e, neste ano, gravou para uma
série que irá ao ar em 2024. Como palestrante, já falou em mais de 30
empresas globais (Veolia, Moove, ifood, Decathlon, Monte Bravo, Nestlé,
BID, Loft, Amazon, dentre inúmeras outras), inspirando mais de 100 mil
pessoas com a sua conquista.
Ganhadora do Prêmio UOL Universa
Mulheres Inspiradoras 2021 e do Troféu Raça Negra 2021, Aretha desperta
cada vez mais a atenção da mídia, citada organicamente em + de 450
canais, incluindo CNN internacional e USA Today.
Referência quando se fala de superação, Aretha sabe que seus sonhos são grandes, mas a transformação que promovem é ainda maior.
Expedição Aretha no Everest
Para
viabilizar o projeto Everest, orçado em quase 400 mil reais, a primeira
saída encontrada por Aretha foi trabalhar com reciclagem, uma volta a
atividade praticada na infância e adolescência. Sua atuação envolveu a
família e foi tão intensa que, no final, cerca de 35% do valor da
expedição veio da coleta seletiva. Nesse processo, iniciado em março de
2020, ela se consolidou como ativista ambiental e empreendedora social.
Até agora, ela juntou mais de 130 toneladas de resíduos destinados à
reciclagem, reuniu cerca de 600 brinquedos usados e higienizados
distribuídos no Natal e mais de 1200 livros disponíveis para uma
biblioteca comunitária. Ela também implantou a primeira parede de
escalada comunitária em Campinas.
Fonte: ZDL Sports