
Vladimir Nascimento/Foto: Arquivo O Candeeiro
ARTIGO - Cultura popular x cultura erudita = Por Vladimir Nascimento
Apesar da busca pelo conhecimento incitar a compreensão e valorização das diferenças, muitos, sob o título de doutores ignoram, desprezam e discriminam os que não tiveram oportunidade ou não puderam estudar. Mas, como pode ser titulado doutor uma pessoa que não consegue compreender que a grandeza do homem não está nos prêmios, cargos e honrarias, e sim na sabedoria e no seu caráter? Por que a cultura popular é desvalorizada, menosprezada e rotulada de insignificante e irrelevante?
Cultura popular está relacionada ao senso comum, um saber que não se aprende na escola, mas que é perpassado através de gerações. A cultura erudita, ao contrário, é mais complexa, e exige certo grau de instrução e determinados tipos de conhecimentos. Mas uma não pode exercer soberania sobre a outra. Mesmo percorrendo caminhos diferentes para alcançar determinado objetivo, os resultados produzem o mesmo efeito.
O mesmo êxtase ao ouvir a fantástica sinfonia n.º 9 de Beethoven no Teatro Municipal de São Paulo pode ser experimentado nas danças e festas folclóricas do carnaval nordestino, por exemplo. Pode-se aprender muito nos contos, fábulas e literatura de cordel, tanto quanto na contemplação de uma coleção de pinturas expostas em uma galeria.
Música, pintura, dança, literatura são artes. E, como toda arte, são passíveis de interpretações e análises pessoais. Acontece que existem pseudo-intelectuais, por exemplo, que julgam o nível de racionalidade das pessoas pela sua cultura musical. O preconceito existe em todos os âmbitos das expressões humanas, e com relação ao gênero musical não poderia ser diferente. Mas como podemos qualificar se uma música é boa ou ruim? Ora, não existe um modelo padrão que seja superior a todos os outros gostos musicais. Um acadêmico, letrado e intelectual pode admirar e curtir ritmos como funk, axé, pagode; da mesma forma que uma pessoa com pouca instrução pode apreciar uma sinfonia de Mozart, mesmo sem sequer saber ler uma partitura. Ou seja, não existe cultura pertencente a um único grupo social.
Por fim, o que seria mais válido: um cidadão que ouve uma música erudita em uma caixa de som amplificada, desrespeitando a lei do silêncio ou uma pessoa que escuta o ritmo do axé no interior do seu quarto? É preferível ser um rústico caipira, semianalfabeto, varredor de rua, que devolve ao dono uma mala cheia de dinheiro que encontrou perdida, mesmo sem ter o que comer em casa; ou um ilustre intelectual, frequentador assíduo de museus e feiras literárias, que ganha dinheiro de forma ilícita? Se você for íntegro e honesto, independente do seu “grau” de cultura, popular ou erudita, não tenho dificuldades em prever qual seria sua resposta.
Vladimir de Souza Nascimento
Psicólogo, Mestre em Psicologia (UFBA), autor do livro DIFERENÇAS e palestrante
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