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Estudantes do interior da Bahia criam dispositivo que mede ruído em sala de aula e promove inclusão de alunos com hipersensibilidade auditiva
Em uma escola pública de Coração de Maria, no interior da Bahia, o barulho, tantas vezes invisível, começou a ser ouvido de um novo jeito. Um grupo de estudantes da Escola Municipal David Mendes Pereira, participantes do Laboratório de Educação 7.0 da Dulino, decidiu transformar o incômodo do excesso de som em uma oportunidade de cuidado coletivo. Assim nasceu o Projeto “Coração Inclusivo”, um dispositivo eletrônico simples e de baixo custo que mede o nível de ruído nas salas de aula e indica, por meio de luzes coloridas, se o ambiente está em um nível tranquilo (verde), moderado (amarelo) ou intenso (vermelho).
O projeto nasceu de uma inquietação genuína: como fazer com que todos consigam aprender, inclusive os alunos com hipersensibilidade auditiva. “A gente percebia que alguns colegas taparam os ouvidos com as mãos quando a turma começava a falar alto. Era triste ver que eles se sentiam desconfortáveis. Queríamos achar um jeito de ajudar”, conta uane Souza da Silva Santos, 14 anos, uma das criadoras do protótipo.
Com orientação dos monitores e professores, o grupo pesquisou sensores de ruído, estudou programação em Arduino e construiu o protótipo dentro do laboratório. “Quando a luz acende vermelha, a gente mesmo tenta abaixar a voz. Virou uma brincadeira boa, mas também uma lição de empatia”, acrescenta Igor Gabriel Ferreira, 12 anos.
O dispositivo foi instalado em turmas da rede municipal e rapidamente se tornou parte da rotina escolar. Professores relatam melhora no comportamento e no bem-estar dos alunos, que passaram a compreender o impacto do som no ambiente e a se responsabilizar coletivamente pela harmonia da sala.
Para o monitor educacional Vinícius Santos, o “Coração Inclusivo” é mais do que um projeto: é um símbolo do poder transformador da educação. “Quando um estudante entende que pode usar a tecnologia para cuidar do outro, estamos diante do verdadeiro sentido da inovação”, afirma. “A Dulino acredita numa educação que desperta empatia e protagonismo. O que esses jovens fizeram é exatamente isso: eles olharam para um problema real e responderam com sensibilidade, criatividade e propósito.”
Desenvolvido com base na Lei Brasileira de Inclusão (Lei 13.146/2015) e alinhado às competências da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), como empatia, cultura digital e cidadania, o projeto utiliza sensores de ruído e LEDs programados para indicar os níveis sonoros do ambiente. A simplicidade técnica contrasta com a profundidade do impacto: trata-se de tecnologia assistiva aplicada à convivência.
A iniciativa, que começou em uma única sala, já desperta interesse de outras escolas do município. Coordenadores e professores planejam expandir o uso do sensor para todas as turmas, inclusive da Educação Infantil. “A escola ficou mais silenciosa, mas o que mais mudou foi o jeito que a gente escuta uns aos outros”, resume Yasmin Gramosa, com um sorriso.
O Projeto "Coração Inclusivo" faz jus ao nome que carrega: um coração que pulsa entre cabos, luzes e gestos de solidariedade, lembrando que o futuro da educação pode ser tão luminoso quanto uma lâmpada verde acesa no meio da aula.
Por Pedro Cunha
