
Emanuelle e Vovô / Foto: Ícaro Cerqueira
Emanuelle Araújo e Ilê Aiyê lançam "Cadência Nobre" hoje
“Você já foi à Bahia, nega? Pois vá", canta Dorival Caymmi. Se for – e faço minhas as palavras de vários baianos de alta patente – não deixe de ir à cerimônia de saída do bloco afro Ilê Aiyê na ladeira do Curuzu. É um misto de ato religioso e musical no qual Vovô, fundador e presidente da instituição, comanda um ritual com bacias de milho, pipoca e pó de pemba, usados para pedir boas energias a Oxalá e Obaluaê e são soltas pombas brancas também em homenagem a Oxalá. A cerimônia conta com a presença dos percussionistas do Ilê Aiyê, que saúdam Vovô e a Deusa do Ébano, a vencedora do concurso de beleza realizado pelo bloco afro.
Se é difícil traduzir em palavras a sensação de estar presente a um evento dessa nobreza, imagine fazer uma canção para ilustrar esse momento tão solene. Cadência Nobre, mais recente single de Emanuelle Araújo, cumpre essa função de modo exemplar. A criação da dupla Tenison Del Rey e Edu Casanova, que trazem no currículo composições gravadas por Ivete Sangalo, Chiclete com Banana e Daniela Mercury, entre muitos outros, passa exatamente a sensação de paz que invade a nossa alma após presenciar um desfile do bloco afro – a força da percussão, encorpada por teclados (que emulam a sonoridade da axé music da virada dos anos 1980 e 1990) e uma orquestra de cordas, que faz "cama” para a voz adocicada de Emanuelle, o que resulta num clima celestial. “Estava na minha casa em São Paulo quando recebi a música, em versão voz e violão. Foi tão impactante que comecei a chorar", confessa a cantora. “Meu marido perguntou até o que tinha acontecido. Disse: ‘Me dê solidão e não te preocupa porque é uma coisa boa.’”, diz.
A maior parte das gravações aconteceu em Salvador, no lendário estúdio W.R. (o Abbey Road da música baiana). Os sopros e a voz, por seu turno, foram gravados no estúdio Marini, no Rio de Janeiro. As cordas ficaram a cargo da Tallin Studio Orchestra, grupo sinfônico estoniano – terra natal do compositor erudito Arvo Part e dos maestros Paavo e Kristjan Jarvi, ou seja, melhor selo de qualidade não há. Há de se destacar ainda o piano de Marcelo Galter (do trio Mocofaia), cuja delicadeza promove um encontro certeiro com a interpretação de Emanuelle. “Sempre quis ter uma faixa que tivesse uma combinação de orquestra percussiva com orquestra de cordas. Achei que essa música seria perfeita para a gente experimentar essa história", diz Emanuelle. Cadência Nobre tem produção de Kassin e a mixagem é do americano Michael Brauer, que trabalhou com John Mayer, Rolling Stones, Coldplay, James Brown e Rod Stewart, entre outros nomes de ponta do showbiz.
Cadência Nobre é mais um capítulo do importante trabalho de Emanuelle Araújo com a música baiana. E faz parte da produção do seu novo álbum que estará completo no segundo semestre. Nos três singles anteriores, a cantora trouxe o samba-reggae de “Vá na Paz do Senhor”, a composição de Xexéu que é um hino da Timbalada, na regravação de “Minha História” e todo a energia da axé-music na sua parceria com Tatau em “Tem Não”. A composição que estreia dia 17 de abril nas plataformas de streaming presta reverência ao Ilê Aiyê, o bloco afro mais antigo do país e que no Carnaval de 2025 comemorou meio século de existência. “O Ilê é o precursor de tudo isso que a gente está falando.", comenta Emanuelle. Assim que escutou a composição, a cantora entrou em contato com Vovô, do Ilê Aiyê, que adorou a música e deu aval para a participação de integrantes da Banda do Bloco. Os arranjos orquestrais, por seu turno, ficaram a cargo de Felipe Pinaud, que também se encarregou da função de flautista.
A relação de Emanuelle com o bloco afro data do tempo em que fazia aulas de dança no Pelourinho, região central de Salvador. E que se manteve firme quando assumiu a carreira de intérprete, mais especificamente na Banda Eva. “Convivi algumas vezes com Vovô, a gente criou uma relação de muito respeito. O Ilê Aiyê faz parte das minhas playlists diárias. Com sua musicalidade potente, o bloco e a fundação persiste e comunga trabalhos importantíssimos o ano inteiro. Então, para mim esse lançamento do dia 17 de abril tem uma grande importância", comenta.
“Adoro o nome da música Cadência Nobre. Me vem de imediato a imagem da nobreza dos seus integrantes, na saída do Ilê. Ali estamos na frente de muitas divindades. Para mim é um momento sagrado", diz Emanuelle. “Me lembrei muito das imagens dessas noites do Ilê quando fui colocar voz na música", complementa.
É escutar Cadência Nobre e sentir o Ilê passar.
Texto por Sérgio Martins.
Ficha Técnica single:
Composição: Tenison Del Rey e Edu Casanova
Voz: Emanuelle Araújo
Arranjos: Felipe Pinaud
Flautas: Felipe Pinaud
Flauta e Clarinete: Dirceu Leite
Piano: Marcelo Galter
Regência: Kleber Augusto
Participação Especial: Ilê Aiyê
Produção Musical: Kassin
Gravação Base Estúdio Salvador
Técnicos De Gravação: Apu Tude e Victor Gonçalves
Gravações Sopros e Voz Rio De Janeiro: Estúdio Marini
Técnico de Som: Daniel Alcoforado
Músicos Ilê Aiyê: Edson Santos Melo, Ludmila dos Santos, Maria Eduarda de Almeida Souza, Robson Gomes de Jesus, Thaina Rodrigues, Vivaldo Souza, Bricio Vitor Souza, Ruan Lemos, Alexandro Teles e Luciana Santos Silva
Orquestra:
ERR Radio Studio - Tallin Estônia
Regência e Direção Artística: Kleber Augusto
Engenheira de gravação - Kira Malevskaia
Primeiro Violino: Egert Leinsaar, Piret Sandberg, Marge Uus, Tarmo Truuväärt, Astrid Muhel e Danae Taamal
Segundo Violino: Kadi Vilu, Kristjan Nõlvak, Kristel Kiik, Maiu Mägi, Triin Krigul e Jevgenia Gulman
Viola: Rain Vilu, Martti Mägi, Helena Altmanis, Sandra Klimaite, Mairit Mitt e Julija Širokova
Violoncelos: Tõnu Jõesaar, Aare Tammesalu, Margus Uus, Seulki Lee
Contrabaixo: Janel Altro? e Imre Eenma
Produção Executiva faixa: Mariana Rolim
Produção Salvador: Magali Paterson
Ficha Técnica clipe:
Equipe Têm Dendê Produções
Concepção artística: Vânia Lima
Direção de fotografia: Claudio Antônio
Direção: Fernanda Bastos
Supervisão de montagem: Taguay Tayussy
Roteiro: Vânia Lima e Vitor Gabriel
Produção: Bruno Ramos
Assistente de produção: Mônica Brandi
Assistente de câmera 1: Celson Felipe
Assistente de câmera 2: Lazaro Ramos
Colorista: Fábio Santana
Mixagem de som: Edilton Irmão Brito
Motion designer: Edvan Neves
Montagem e finalização: Jefferson Neto
Agradecimentos:
Casa do Carnaval da Bahia
Restaurante Mãe
Gusttavo Canelas
AMS Tour
Por Marcela Salgueiro