Foto: Arquivo pessoal
ARTIGO - Saúde mental em queda - Por Cátia Garcez
A sensação de que agora vencemos a pandemia e que poderemos nos abraçar e socializar, nos traz uma outra falsa sensação: a de que “agora” tudo que vivemos durante o isolamento social e pandemia passou.
Infelizmente, está sensação não é verdadeira, pois estes quase três anos, nos causaram males que ainda não tivemos tempo para perceber e mapear.
Primeiro ouvimos as queixas sobre as sequelas da Covid para quem se contaminou. Fala-se muito em perda de memória depois da recuperação dos sintomas, mas ainda não se tem certeza de nada.
Outra questão são as condições emocionais, deteriorada durante o isolamento, principalmente entre crianças e jovens, devido à ausência de afeto e de uma vida social. Presas em seus lares que muitas vezes já eram desestruturados e embrumadas em conflitos.
Em 2022, enquanto professora, psicanalista e Arteterapeuta, pude perceber as consequências desse isolamento no retorno das aulas presenciais. Um surto de mal estar, crises de ansiedade, crises de pânico, desmaios, ameaças de suicídio e automutilação explodiram dentro do espaço escolar, tanto na Ensino fundamental quanto no Ensino Médio.
O fato é que, nem de longe voltamos “ao normal” e o tão anunciado “novo normal” vem cheio de demandas que não será o professor, muito menos a escola que darão conta sozinhos.
A queda no aprendizado devido aos métodos usados nos últimos dois anos, talvez possa ser recuperado, caso haja políticas públicas compensatórias e extras para recuperar o tempo e a aprendizagem desses alunos e alunas. No entanto, o estrago emocional que podemos identificar nessas crianças e jovens exige uma atenção urgente e proativa com o estreitamento de profissionais da saúde junto à escola e às famílias. As prefeituras precisam urgente de projetos interdisciplinares com várias secretarias e setores agindo juntos em prol de atender essas novas demandas. Urge a necessidade de outros profissionais fazerem parte desse processo, a exemplo de psicólogos, mediadores de conflitos, Arteterapeutas, psicanalistas, assistentes sociais, em parcerias com a família e a comunidade escolar.
Se faz necessário também a continuidade do processo terapêutico para que a criança e o jovem possam ter tempo para restabelecer-se, enquanto sujeito de si mesmo, reencontrando o equilíbrio interno para viver em sociedade.
Iniciar um processo terapêutico sem a devida continuidade e periodicidade, pode levar à descrença na terapia além de agravar o processo.
Cátia Garcez é Mestra em Crítica Cultural e Arteterapeuta