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ARTIGO - A Relação do Caboclo com o Dois de Julho na Bahia - Por Jotta Fonseca
Os portugueses ao chegarem nessas terras já encontraram um povo nativo, que erroneamente foi batizado como “Índios” e assim são chamados até hoje. Eles eram muitos, cerca de 5 milhões, distribuídos em tribos de acordo a língua que praticavam, na região litorânea habitavam os Tupis-Guaranis.
Apesar de minoria, muitos “brancos” europeus aqui também desembarcaram, assim como os escravizados trazidos de África.
A figura do caboclo etimologicamente falando, nasce então entre a miscigenação do Índio com o Português, mistura esta que ocorrera no período da colonização do nosso País.
Para traçar um paralelo entre o Caboclo e o índio destacamos a forte presença indígena em toda essa região do “recôncavo baiano”, esses nativos eram os verdadeiros donos da terra e na medida em que a população crescia com essa mistura de raças, o ideário de pertencimento mostrava-se cada vez mais forte e mais latente nos séculos seguintes, quando iniciou-se as lutas pela independência do Brasil. O povo deste mesmo Recôncavo onde os índios outrora se espalhavam, uniram-se para aclamar D. Pedro I como “Defensor perpetuo do Brasil”, reunindo-se inicialmente na Câmara de Cachoeira em 25 de junho de 1822 e dali partiram para sangrentas batalhas até a derrota e expulsão da última tropa lusitana, comandada por Madeira de Melo cerca de um ano depois em julho de 1823.
Nesse interstício, é importante registrar a participação da valorosa Vila de São Francisco da Barra do Sergipe do Conde, que em 29 de Junho de 1822, declarou seu apoio ao príncipe Regente e contribuiu financeiramente para a manutenção das tropas.
Para nós baianos a verdadeira independência do Brasil só aconteceu de fato após essa data histórica do 2 de julho, que marca toda a luta travada em terra e mar por esse povo mestiço que carrega em seu peito uma mistura de patriotismo e religiosidade marcada por exemplo na composição do Poeta Arthur de Sales (que viveu muito tempo em São Francisco do Conde) e escreveu o Hino ao Senhor do Bonfim, um louvor que logo na primeira estrofe explode esse sentimento patriótico de um povo aguerrido, vejamos:
“Glória a ti neste dia de glória
Glória a ti, redentor, que há cem anos
Nossos pais conduziste à vitória
Pelos mares e campos baianos”
O baiano é um povo feliz e festeiro, e essa conquista foi um importante motivo para comemorar, e então eles foram as ruas festejar a sua independência, contudo, precisavam de um ícone, algo que simbolizasse esse triunfo e assim, escolheram um ancião, mestiço e com sangue índio como símbolo da conquista, por tratar-se de uma figura que os representavam. Alguns anos depois, foi esculpida a imagem do Caboclo que passou a desfilar em um carro alegórico tendo às mãos uma lança golpeando um dragão, que representa o estrangeiro, o invasor.
Essa contextualização histórica faz-se necessária para concluirmos que a figura do Caboclo é um elemento plural, porque representa além do índio, o mestiço, os soldados, os negros libertos, os lavradores da cana de açúcar… Ou seja, todos aqueles que de uma forma ou de outra contribuíram para aquela conquista.
O Caboclo é uma idealização que o povo baiano faz de si mesmo, onde se vê representado por aquele personagem. Esse fato é tão notório, que anos depois foi esculpida uma Cabocla que veio representar as mulheres que também tiveram participação nessas lutas como Joana Angélica, Maria Quitéria, Maria Felipa entre outras. O casal de Caboclos por tanto, consolida a representação do Povo baiano nas comemorações pela sua independência e por isso desfilam a cada 2 de julho em Salvador e cidades do Recôncavo.
Jotta Fonseca é Graduado em Direito, Graduando em Letras, Pós graduado em Gestão Pública, poeta e presidente da Academia de Letras de São francisco do Conde
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