Foto: arquivo pessoal
CONTO - E agora? – Por Evandro Barbosa
Trinta e seis anos de trabalho. A única coisa em que pensa é na abençoada aposentadoria.
Nunca gostou desta denominação. Preferia o termo jubilamento. Muito mais condizente com o tempo que estar por vir. Dias de júbilo, alegria. Já não pensa em mais nada, finalmente iria deixar de fazer o que era mandado e não o que gostaria de fazer.
Entretanto, teria que obedecer aos trâmites legais, uma vez que não bastam tão somente ter trabalhado durante tanto tempo, era necessário cumprir as exigências legais para gozar do tão sonhado jubilamento.
Os livros, que ao longo do tempo, foram sendo arrumados nas estantes e que nunca teve tempo suficiente para lê-los, agora teria mais do que tempo.
Não imaginou que um aparelhinho, que é um pouco maior do sua própria mão, fosse capaz de frustrar os seus sonhos. Dia e noite à disposição, como se fosse um plantonista, estava este aparelho lhe tolhendo os momentos que estaria reservado aos livros, à pintura, ao cineminha a tarde. Nada disso acontecia. As redes sociais, os instagrams da vida já não estavam permitindo a liberdade total que tanto almejara. E-mails com propagandas de lojas que era cliente, nos forçam a declinar os dados necessários, para que enviem de forma cansativa, as ofertas dos mais diversos produtos que visitamos nos sites., WhatsApp, fake news, tudo para roubar o nosso precioso tempo que seria destinado ao lazer.
Eis que surge a pandemia do coronavírus. Todos os planos são adiados, viagens já adquiridas e pagas são remarcadas para alguns meses.
O prazo da remarcação venceu. Outros foram fixados. Assim ao longo de um ano tudo foi sendo adiado. A impressão que tinha era que a vida estava em compasso de espera.
As autoridades de saúde recomendaram medidas de prevenção tais como: higiene das mãos, isolamento social para reduzir o contágio, sendo que a medida mais promissora nunca chegou a ser posta em execução devido a grupos negacionistas que começaram a espalhar neste terreno fértil das redes sociais tratamento precoce, como se fosse possível tratar uma pessoa sã. Alguns médicos resvalam na sua própria ignorância, ou aguarda uma cura milagrosa para deitar nos louros imerecidos
Sai ministro, entra ministro, avestruz se recusando a tomar uma medicação, que comprovadamente, não tem qualquer eficácia contra o vírus.
Mortes aos milhares são anunciadas. Parentes contaminados. Bate uma ansiedade. O medo da morte se distancia dos jovens, que insistem em se juntar em grandes baladas, com a justificativa de que precisa viver. Viver e morrer talvez tenha o mesmo significado para a geração nem-nem. A esperança foi a vacina, depois de muita luta, os idosos se recusam a tomar a segunda dose para a completa imunização contra a COVID -19.
E a tão sonhado aposentadoria fica aguardando a vida voltar ao que não era antes.
E agora José, para onde? Com tanta gente passando fome ?
Evandro Barbosa é funcionário aposentado da Justiça do Trabalho